Hoje vou conversar com vocês sobre um tema que de vez em quando os pais me abordam no consultório: o modo como a criança brinca. Uma das fases do desenvolvimento infantil envolve a capacidade de realizar brincadeiras simbólicas e a ausência dessa habilidade também indica necessidade de atenção, por isso tantos se preocupam.

Mas o que é brincadeira simbólica?

Simbolizar depende do desenvolvimento da função simbólica que é uma das funções da linguagem. A função simbólica é a capacidade de representar algo, ou seja, tem relação com a crianção de imagens mentais sobre algo.

A brincadeira simbólica vai além de uma atividade lúdica, ela pode revelar muito dos interesses individuais da criança, suas necessidades e o nível de desenvolvimento cognitivo já alcançado.

E como isso ocorre?

Durante o desenvolvimento infantil a criança desenvolve habilidades específicas em cada faixa etária. No que diz respeito à brincadeira, propriamente, são conhecidas as fases sensório-motora, pré-simbólica e simbólica.

A fase do brincar sensório-motor acontece até aproximadamente os 2 anos de idade e é a fase na qual a criança atua com os brinquedos de modo a explorá-los manuseando-os rapidamente e de vez em quando parando para analisar um ou outro objeto.

Logo após a criança entra na fase das condutas pré-simbólicas. Fazem parte das condutas pré-simbólicas:

– o uso convencional dos objetos: iniciado por volta do segundo ano de vida e a criança usa os objetos na brincadeira de modo convencional, ou seja, se ela finge que está tomando banho e precisa da esponja e do sabonete real, precisa de um pente ou escova real para pentear o cabelo. Os objetos que estão envolvidos no brincar são objetos que fazem parte do seu dia a dia. As ações que a criança desenvolve nesse brincar são ações que ela mesma vivencia, como tomar banho, comer, vestir-se. Normalmente ela imita a mãe ou quem desenvolve tais ações com ela. O brincar ainda está centrado nela mesma e em suas necessidades.

– os esquemas simbólicos: nessa fase a criança já aceita pequenas miniaturas para desenvolver sua brincadeira as quais continuam a envolver suas ações rotineiras.

– a aplicação das ações em terceiros: aqui uma nova fase se inicia, que é quando a criança descentra-se dela mesma praticando as ações rotineiras nos outros (pessoas e bonecos). O cabelo a ser penteado agora é o da mamãe, da vovó. Pessoas e bonecos são alimentados ou acariciados ou lavados passivamente. Eles estão na brincadeira sofrendo a ação. Quando esse tipo de faz de conta se inicia a criança dá mostras de que conseguiu diferenciar ela e o outro, que consegue discriminar ações nela e no outro assim como ações dela e dos outros.

Passada essa primeira fase do brincar inicia-se a fase das condutas simbólicas, que envolve:

– a sistematização da aplicação em outros: aqui a criança “permite” que o outro faça durante a brincadeira as mesmas ações que ela faz. A criança aqui julga se o outro quer ser alimentado, vestido e até mesmo se quer dormir. Ela já consegue dar uma ordem verbal e esperar a reação do outro.

– o sequenciamento de ações simbólicas: o salto qualitativo dessa fase é a capacidade da criança de desenvolver ações em sequência de ações, demonstrando começar a ter a noção espaço-temporal. Por exemplo: ao invés de colocar o boneco para dormir, ela primeiro coloca ele para tomar banho, seca, veste o pijama e depois coloca-o na cama. Há nesse momento o planejamento de ações e a possibilidade de antecipar eventos.

– o uso de símbolos: esta é a última fase do desenvolvimento da brincadeira simbólica e consiste na possibilidade da criança desligar-se dos objetos concretos e criar com outros itens ou na imaginação o objeto o que deseja. Por exemplo: a criança quer colocar a boneca para dormir mas não tem uma cama, então ela pega um pedaço de papel e finge ser a cama; ela quer dar comida à sua boneca, mas não tem prato nem talher, então ela pega uma caixinha de fósforo e um palito e finge ser o prato e o talher. A capacidade simbólica (representação) se completa quando objetos são transformados em outros ou quando o gesto ou as palavras sustentam ou criam, de forma fictícia, um fato/objeto ausente.

Então vejam caros pais que o brincar simbolicamente tem um percurso para acontecer e não se pode queimar etapas. Aqui no Evolvere  levar a criança a brincar simbolicamente faz parte do processo terapêutico desenvolvido com todas as crianças, pois essa habilidade está totalmente entrelaçada com desenvolvimento da linguagem e com a construção do sujeito.  Tudo precisa ser primeiro vivenciado no concreto, criado imagens mentais para depois poder ser trazido no brincar simbolicamente.

Até o próximo encontro!

Fabiane Klann Baptistoti

Fonoaudióloga

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.