Após os dois anos de idade é comum escutarmos histórias de crianças que desenvolvem algum tipo de seletividade alimentar, é nessa idade que geralmente começam as escolhas alimentares.

A seletividade alimentar é a diminuição da variedade e da quantidade de alimentos aceitos pela criança, esse processo ocorre em aproximadamente 30% das crianças com desenvolvimento típico, e esse número pode subir para até 80% em crianças com desenvolvimento atípico, incluindo nesse grupo as com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Entre outros fatores, as principais causas da presença considerável de alterações alimentares nas crianças com TEA são:

  1. INFLEXIBILIDADE – é comum a aceitação de poucos alimentos e sempre os mesmos. A criança recusa-se a experimentar algo novo e não faz suas refeições em local ou horário diferentes da sua rotina. Preferência pelos itens separados no prato, sem contato de um alimento com o outro. Qualquer alteração na sua rotina prejudica sua alimentação.
  2. PROBLEMAS NO PROCESSAMENTO SENSORIAL – cheiros, cores, aspecto visual, texturas, sabores, pedaços grandes, temperatura… costumam ser características que dificultam o processamento sensorial e a criança recusa os alimentos.

Quando a alteração se enquadra em um quadro de INFLEXIBIDADE geralmente esse comportamento é observado em toda a rotina da criança. Sugere-se um trabalho com padronização dos momentos de alimentação e inclusão de rotina visual. Além disso, é indicada a inclusão de um novo alimento por vez, e devemos aguardar tempo suficiente para a criança se adapte com aquela nova opção na sua alimentação, deixando o novo alimento visível e presente durante as refeições por um longo tempo, e de preferência separado dos demais alimentos que já são aceitos.

Já quando a seletividade está relacionada com alteração no PROCESSAMENTO SENSORIAL a abordagem deve ser realizada priorizando o funcionamento coordenado do sistema sensorial da criança. Para que isso aconteça devemos promover aproximações despretensiosas com os alimentos e suas estimulações/sensações (cheiro, textura, sabor, temperatura, etc), utilizando num primeiro momento os outros sentidos, que não o paladar:

– VISÃO: Através da visão se desperta na criança o interesse pelos estímulos do alimento como a cor, os utensílios propostos para saboreá-lo, os tipos de textura, os brinquedos envolvidos na dinâmica proposta.

– OLFATO: Sentido muito importante para desenvolver capacidade adaptativa, tornando mais familiar algo que antes era insuportável e repulsivo. O olfato serve como um antecedente do contato direto com o alimento e tem relação direta com fatores emocionais e com o PALADAR.

– TATO: Permite perceber a textura, a temperatura e a forma dos alimentos. É a aproximação tátil que promove subsídios para criança se estabilizar sensorialmente para o contato intra oral com o alimento, sendo que as palmas das MÃOS e dos PÉS  permitem experiências sensoriais muito próximas das sentidas pela língua, por isso a importância da criança “brincar, se sujar, manipular” os alimentos antes deles serem ofertados no momento da refeição!

Até a próxima.

Jéssica Batista

Fonoaudióloga

 

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