Os desafios de educar uma criança a dois

Ser pai e mãe é uma das tarefas do ciclo vital mais desafiadoras que existe. Cuidar integralmente de outro ser humano, ajudando-o a se desenvolver de forma saudável e responsável, desde o momento de seu nascimento até a idade adulta, exige uma grande desenvoltura dos pais. Cumprir esta tarefa sem ter uma  “receita pronta” pode ser bastante prazerosa, mas também, para alguns pais bastante árdua. 

Inspiração para a paternidade

Nada mais comum do que se espelhar nos exemplos de pai e mãe, que cada qual teve em sua vida, para exercer a paternidade e maternidade, quando assim acontecer. Porém, nem sempre os pais concordam com aquilo que foi feito consigo em sua infância e deseja fazer diferente com os seus. Permanece, muitas vezes usando os pais como exemplos, mas dessa vez, para aquilo que não se quer repetir. Ou por vezes oscila em repetir algumas práticas da geração anterior e aperfeiçoar aquelas que lhe foram desagradáveis. 

Coparentalidade

Além disso, há outro desafio quando se trata de um casal de pais, que é o de organizar a coparentalidade. Ou seja, é necessário equilibrar a forma que cada um dos cônjuges deseja educar seu filho, pois quando uma tarefa é realizada em dupla corre o risco de haver discordância. E isso não é ruim, pelo contrário, agrega e é muito importante no desenvolvimento da criança, desde que os pais consigam equilibrar as bagagens que cada um trouxe de suas histórias de vida. Ambos são “chefes” da família frente aos filhos e têm igual importância no desenvolvimento emocional dos mesmos. 

O que as crianças necessitam é de coerência. Os pais têm todo o direito de discordar, e isso vai acontecer cotidianamente, mas o importante é que aprendam a fazer isso sem gerar confusão nos filhos. Para as crianças as regras precisam ser claras. Um dos pais permite que o filho almoce sentando no sofá da sala, o outro o incentiva a fazer todas as refeições a mesa. Um exige que tenha salada no prato, o outro não se importa de substituir o jantar por um biscoito. Um briga e coloca de castigo e o outro tira do castigo e diz que a punição foi exagerada. Em alguns momentos isso vai acontecer, porém quando se torna corriqueiro é que pode causar problemas. As crianças precisam saber que as regras valem mesmo quando está só com a mãe, ou só com o pai, ou com ambos juntos. Quando cada um permite que seja diferente, a criança vai sempre precisar testar as situações para saber se é a regra do pai ou da mãe que tá valendo, o que pode ser gerador de muita confusão,  estresse e pode ainda ser causa de alterações comportamentais mais sérias

Coparentalidade no divórcio

O que acontece também são os pais não entrarem em acordo e um desqualificar e tirar a autoridade do outro perante a criança. Isso é muito comum em pais separados. Por vezes por conta de conflitos existente entre os adultos, acabam por ter dificuldade em equilibrar a coparentalidade. Mesmo em família separadas e recasadas é possível se manter a coerência com as crianças. As regras não vão ser todas iguais, pois se tratam de casas diferentes, porém, em linhas gerais as crianças precisam ter um norte a seguir, e é sempre possível e benéfico para a saúde mental dos filhos que isso aconteça. Mas para tal, é necessário que haja pais disponíveis para tal e que o diálogo seja presente. 

A importância do diálogo

Discordar é natural e faz parte do processo, mas deve ser feito de maneira saudável, o que inclusive ensina a criança a lidar com isso. Se ela vê os pais brigando por tudo, será difícil para ela lidar com o que pensa diferente. 

Reconhecer suas práticas e fazer uma autoavaliação constante é a melhor maneira de ir se adequando enquanto pais. Evoluir conforme as necessidades das crianças. Talvez o mais próximo a uma receita para melhorar sua práticas como pais que se possa propor seja apostar no diálogo. Pais, casados ou separados, conversem sobre suas práticas parentais, dialoguem, troquem informações, nada melhor do que isso para que seu filho possa crescer de maneira saudável física, psíquica e emocionalmente. Ah, e se precisarem apostem na terapia, que é sempre um espaço para se construir reflexões e autoconhecimento.

Até mais.

Tamara do Nascimento

Psicóloga – CRP 12/14207

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