Os hábitos orais de maior persistência durante a infância relacionam-se com a função de sucção. Sugar é uma função estomatognática reflexa e precoce, que inicia ainda na vida intra-uterina. Além de trazer prazer à criança, a sucção adequada é muito importante para o desenvolvimento craniofacial.
Durante a amamentação no seio materno, o bebê realiza uma ampla abertura da boca, abocanhando toda a auréola e não somente o mamilo. Os lábios voltam-se para fora, a língua apóia-se na gengiva inferior como uma cânula, formando a organização necessária para o vedamento da boca com a mama.
Já no uso da mamadeira, não há necessidade de manter esse tipo de vedamento e pressão, pois não é preciso “extrair” o leite, assim como não se faz necessário o canulamento da língua para o encaixe o bico artificial.
Essa grande diferença no posicionamento dos órgãos fonoarticulatórios, faz com que a mamadeira altere o desenvolvimento da face, especialmente da dentição e do palato (“céu da boca”).
É bastante comum que no mesmo período a criança faça uso de chupeta, como objeto tranqüilizante e prazeroso. A chupeta influencia diretamente no padrão de posicionamento da língua, no modo respiratório e na posição dentária. A influência no posicionamento da língua é caracterizada pela anteriorização da língua no repouso e durante a fala, causando distorção de sons, por exemplo. O modo respiratório pode alterar-se à medida que a boca permanece constantemente aberta para realização dos hábitos inadequados e que a musculatura enfraquece por não existir o uso adequado dos mesmos, deixando a criança mais cansada e pré-disposta a infecções respiratórias. Já a posição dentária sofre alterações pelo contato persistente de mamadeira, chupeta ou ainda do dedo, abrindo um espaço entre os dentes frontais, conhecido como “mordida aberta”.
Além destes, outros hábitos prejudiciais podem surgir durante a infância, como o apertar os dentes, interpor ou sugar o lábio inferior, morder a mucosa da boca ou objetos, umidificar os lábios com a saliva e ranger os dentes (bruxismo).
Vários estudos apontam que quanto mais tempo a criança é amamentada no seio materno, menor é a chance de existirem hábitos deletérios, assim como já é sabido que cerca de 87% das crianças que apresentam hábitos deletérios apresentam algum tipo de má oclusão (alteração dentária).
A sugestão é que as famílias fiquem atentas ao uso indiscriminado desses materiais e que, aos poucos, reduzam o uso com o avançar da idade da criança, eliminando totalmente os hábitos até os 4 anos de idade.
Tatiane Moraes Garcez – Fonoaudióloga Clínica