Crianças com alterações comportamentais e socais, como ocorre no caso do Transtorno do Espectro do Autismo, podem apresentar desafios na socialização e na dinâmica familiar para além dos percalços comuns do desenvolvimento, o que requer de todos nós compreensão, estudo, paciência e muita dedicação.

No post de hoje quero conversar não somente com os pais, mas também com os profissionais que atendem crianças que são diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo.

Algumas informações trazidas pelos pais no momento do processo terapêutico tem me assustado nos últimos meses e a mais expressiva é a opção indiscriminada pelo uso de medicamentos para que comportamentos “desapareçam” tornando a vida de quem convive com esta criança aparentemente mais tranquila.

O “bom comportamento” tais como: birras, oposições, desatenção, entre outros não é conquistado do dia para a noite, faz parte de um processo de modificação cerebral. Novas sinapses não acontecem somente porque a criança passa  a tomar uma medicação. Novas sinapses para a conquista de novos aprendizados acontecem por um processo denominado TERAPIA.

 Pior do que esse fato é a opção dos pais em não oferecer e muitas vezes retirar seus filhos do processo terapêutico. Então vamos aos dados das pesquisas.

O que falam as pesquisas

Segundo o pesquisador Evdokia Anagnostou, cientista clínico sênior no Bloorview Research Institute em Toronto, Canadá coloca que: “… muitas crianças com autismo que tomam medicamentos antipsicóticos não recebem terapia comportamental….. Os resultados sugerem que essas crianças começam a tomar as drogas, muitas das quais têm efeitos colaterais severos, sem antes tentar opções mais seguras. Essa é uma bandeira vermelha.”

Os remédios podem oferecer uma solução imediata, mas a longo prazo eles deixam de “funcionar” trazendo  consequências para a criança. O mesmo acontece quando a criança deixa de toma-lo, suas consequências podem ser devastadoras, pois o cérebro estava acostumado a receber doses de algo químico para acalmar-se, concordar e apresentar mais tempo de atenção.

O mesmo pesquisador citado acima coloca: “A coisa mais importante é ensinar a nossos filhos habilidades que lhes permitam aprender a regular seu próprio nível de excitação, emoções e comportamento antes de darmos medicação”. E outro pesquisador completa: “Os medicamentos não ensinam habilidades. Eles são Band-Aids.”

As habilidades citadas por eles são aquelas referidas em meu post da semana passada, as chamadas Habilidades Sociais. Estas habilidades só são aprendidas pela criança em processo terapêutico frequente, cujos pais têm participação e levam para sua vida prática as orientações recebidas dos terapeutas, em situações onde haverá generalização de comportamentos.

O que observamos na prática

Cada um de nós terapeutas certamente tem um paciente que faz uso de antipsicóticos “atípicos”, como aripiprazol, risperidona e ziprasidona, para irritabilidade, agressividade e outros comportamentos desafiadores em crianças com autismo. Tais drogas apresentam como

efeitos laterais: ganho do peso, os tics motores e um risco aumentado do diabetes.

Na clínica é muito perceptível a mudança brusca de comportamento de modo negativo na criança quando inicia o uso de psicotrópicos. Passado os primeiros meses do ingresso desse uso o que observamos é a mudança do comportamento inicial, porém nem sempre o não aparecimento de outros comportamentos que são tão disfuncionais quanto o comportamento inicial.

Algumas crianças não se adaptam ao primeiro remédio então faz-se necessário troca de medicação e nova adaptação. Aí começa novo ciclo de piora e melhora.

Para os que estão lendo esse post pode dar a impressão de que estou me posicionando contra o uso de medicamentos, longe disso. Apenas lendo recentes pesquisas exibidas em sites internacionais como o Espectrum, me deparo com índices alarmantes de crianças que sem receber intervenção terapêutica fazem uso de medicação que em muito pouco contribuirá para o seu verdadeiro desenvolvimento.

Minha intenção é fazer um alerta, chamar a atenção para que o uso indiscriminado de medicamentos não seja a primeira opção na vida de uma criança que se encontra dentro do Espectro do Autismo.

Crianças com atraso de linguagem, crianças com Autismo, crianças com comportamentos difíceis devem primeiro passar por processo terapêutico seja ele fonoaudiológico, psicológico ou ambos.

Novamente reafirmo: o que faz o cérebro de uma criança modificar-se, aprender,  são as terapias que ela frequenta com assiduidade. Ainda não se encontrou uma medicação eficaz para crianças que estão dentro do Espectro tendo em vista que a variedade de sintomas em cada criança é muito grande a depender do tipo de gen e mutação que este sofre.

Cautela, paciência, compreensão do quadro são palavras-chaves para todos os que convivem com uma criança que está dentro do Espectro do Autismo.

Até mais!

Fabiane Klann Baptistoti

Fonoaudióloga Clínica

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