No mês de setembro diversas entidades vestem a cor amarela, cor que simboliza a saúde mental e a prevenção ao suicídio.

Esse ainda é um tema tabu em nossa sociedade, mas vejo que pouco se fala das habilidades que podem e devem ser desenvolvidas na infância e adolescência e que são preditivas de uma boa saúde mental durante a vida.

A infância é um período de formação neuropsicológica e onde o meio em que a criança está inserida tem forte influência, assim como é o período onde a criança aprende observando comportamentos dos adultos e pares.

Entre os principais preditivos de saúde mental desenvolvidos na infância estão a capacidade de adiar recompensas e a resiliência.

Adiar recompensas refere-se à capacidade de controlar impulsos com o objetivo de conquistar alguma coisa ou atingir um posterior objetivo. Está altamente relacionada com a tolerância a frustrações e gerenciamento das emoções.

Exemplo: A criança deseja comer um chocolate. A família deixa o chocolate disponível e no campo de visão, mas solicita que a criança aguarde o horário do almoço primeiro para somente então deliciar-se com o chocolate e o adulto sai do ambiente.

Espera-se que uma criança com aproximadamente 4 anos já tenha essa habilidade desenvolvida, isto é, que consiga controlar seus impulsos e seguir adequadamente o pedido dos familiares.

Desenvolver a capacidade de adiar recompensa ensina a criança a ser paciente do mesmo modo que exige dos pais muita paciência durante o aprendizado. Somente com a ajuda de adultos é que ela poderá entender que algo pode ser melhor em longo prazo. Esperar e ser paciente deve fazer parte das atividades do cotidiano da criança, de forma saudável e gradativa.

A capacidade de resiliência, por sua vez, consiste em tentar de novo alguma coisa, mesmo após algumas falhas… PERSISTIR.

Na comunicação das crianças também é possível observar sinais de que essas habilidades estão falhando: crianças que não conseguem aguardar sua vez de ouvir e falar; crianças que não toleram ouvir “não”; crianças que falam apenas de seus interesses, entre outras situações.

Estas habilidades relacionam-se com as chamadas funções executivas que consistem em habilidades cognitivas de controle e regulação dos comportamentos, como a inibição, a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva.

Um estudo publicado em 2011 acompanhou 1000 crianças por 30 anos e concluiu que crianças com melhores funções executivas na infância tendem a serem adolescentes ser adultos com menores taxas de evasão escolar, menor propensão ao uso de drogas, menor envolvimento com delitos e crimes, melhores condições de saúde física e mental, assim como maior sucesso profissional*.

Por todas as mudanças que ocorreram na concepção a Educação e na rotina das famílias, essas habilidades estão sendo menos desenvolvidas nas crianças e, por consequência, estamos nos deparando com adolescentes frágeis do ponto de vista emocional.

É importante que os pais percebam a importância de aprender a ouvir negativas, aprender a esperar e aprender que nem todas as tarefas são recompensadas. Em necessidades específicas, pode-se buscar suporte com profissionais especializados.

* Artigo: Moffitt TE, Arseneaultb L, Belskya D, Dicksonc N, Hancoxc RJ, Harringtona HL et al. A gradient of childhood self-control predicts health, wealth, and public safety. PNAS 2011; 108:2693-8. Link: https://www.pnas.org/content/108/7/2693

 

Até breve,

Tatiane Moraes Garcez

Fonoaudióloga

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