O movimento humano, apesar de parecer algo simples, envolve muitos fatores e estruturas corporais. Conforme a criança vai se desenvolvendo, alguns movimentos passam a ser automatizados, ou seja, não pensamos de forma consciente em como realizar determinado movimento, apenas realizamos. E por isso, muitos movimentos que são inadequados, continuam sendo realizados e causam impactos na vida adulta. 

Um ato motor geralmente requer planejamento antes de ser executado. As informações cerebrais precisam estar coordenadas com a informações musculares. Quando essa troca não acontece ou acontece de maneira equivocada, algumas alterações motoras podem surgir, como o transtorno da coordenação motora, também conhecida como dispraxia. 

Você já ouviu falar em dispraxia?

Também conhecida como “Síndrome do desastrado”, é uma disfunção motora neurológica que impede o cérebro de planejar para que o corpo possa executar os movimentos corretamente, ou seja, nem todas as mensagens que o cérebro envia ao corpo chegam de forma correta. 

A dispraxia tem influência direta em aspectos relacionados às áreas motoras, verbal e espacial.

Pode afetar as crianças de formas e em graus diferentes: desde problemas leves na coordenação a dificuldades mais complexas.

A dispraxia pode ser classificada como motora, espacial, postural e verbal.  

A Dispraxia motora é caracterizada por dificuldades para coordenar os músculos, dificuldades no desenvolvimento do esquema corporal e atraso na organização motora. Gerando dificuldades em atividades como vestir, comer ou andar. Em alguns casos também pode estar associada a lentidão para realizar movimentos.

A dispraxia espacial é caracterizada pela dificuldade de realizar movimentos em relação ao espaço. Ou seja, dificuldades de entender o que é seu corpo no ambiente em que vive e distância de objetos em relação ao seu corpo. Também pode estar associada a dificuldades de seriação, classificação de objetos e conceitos.

Dispraxia postural é a dificuldade relacionada às questões de postura corporal que se refletem num movimento realizado sem ritmo e com pouco controle.

Dispraxia verbal, também conhecida como Apraxia de fala na Infância, está relacionada ao desenvolvimento da linguagem que se caracteriza por um déficit da fala e nas questões motoras relacionadas a fala. 

São crianças muito desastradas

A criança com dispraxia pode não ter noção do próprio corpo e apresentar dificuldades na percepção das distâncias entre objetos, seja parado ou em movimento, por isso, tende a esbarrar em objetos ao seu redor. 

As dificuldades na realização de movimentos sequenciais e/ou ações como escrever, desenhar, traçar uma reta, por exemplo, são sempre sinais de alerta.

Como a criança apresenta déficit nas habilidades motoras, espaciais e posturais (entre outras), em ambientes escolares por exemplo, é comum a criança não gostar das atividades que envolvam o movimento do corpo e tendem a ficar mais isoladas.

As causas da dispraxia são variadas e incluem fatores como alteração genética, traumas ou lesões cerebrais e atraso no desenvolvimento neurológico. A dispraxia pode ocorrer sozinha ou como comorbidade com outros distúrbios do desenvolvimento, como transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista (TEA).

O tratamento é realizado por uma equipe multidisciplinar.

Apesar de não ter cura o tratamento tem objetivo de proporcionar melhor qualidade de vida e minimizar os impactos sociais causados pela dispraxia. 

A atuação da fisioterapia visa melhorar os aspectos físicos da criança como a força muscular, equilíbrio, tônus muscular, postura, coordenação, planejamento e execução de movimentos. O treino motor é importante para estimular as conexões cerebrais que são necessárias para várias outras habilidades. Além disso, também a fisioterapia tem objetivo de proporcionar mais autonomia e segurança motora. 

Muitas vezes por desconhecimento ou por acreditarem que a criança é apenas “desajeitada” os pais não consideram necessário buscar ajuda profissional. No entanto, crianças que realmente apresentam o quadro de dispraxia não conseguem superar suas dificuldades sozinhas ou precisam desenvolver muitas adaptações durante a vida, que trazem prejuízo motor e social. 

Se você tem dúvidas sobre como o seu filho está desenvolvendo os marcos do desenvolvimento motor, vale a pena conferir um texto que já publicamos aqui com todas as etapas e habilidades que precisam ser desenvolvidas (confira aqui).

E para que você esteja  atento aos sinais, listamos as principais características da Dispraxia:

  • dificuldade para andar,
  • dificuldade para manter o equilíbrio, comer com os talheres, pentear o cabelo, dificuldade para escrever ou falar, etc. 

Em caso de dúvida procure um especialista. 

Até breve,

Grazielle Muniz Gobetti

Fisioterapeuta

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