Terminado mais um atendimento, chamei os pais do meu paciente para falar  sobre a sessão, sobre o que foi trabalhado e os objetivos propostos na terapia, convido meu paciente a me ajudar a apresentar o que fizemos de uma maneira prática, interagindo com os pais e disse:

– Vamos mostrar para a mamãe o que fizemos hoje?

– Bolhas de sabão! Respondeu a criança entusiasmada, correndo para o espaço onde realizamos a terapia, e mostrou aos pais os instrumentos que utilizamos na sessão, e entre eles, o potinho de bolha de sabão.

Percebi as mudanças de sentimentos dos pais. Um misto de satisfação pela alegria demonstrada pela criança com certa inquietação ao pensar que parte do plano de intervenção foi simplesmente uma brincadeira com bolhas de sabão.

– Bolhas de sabão? Questionou a mãe, que por dentro possivelmente se perguntou como o fato de uma brincadeira tão simples poderia ajudar na evolução do tratamento.

É nesse momento que o profissional não deve julgar o pensamento dos familiares, mas ao contrário, ter propriedade sobre os motivos da intervenção realizada e auxiliar os pais no desenvolvimento desse mesmo olhar, para que em casa, qualquer oportunidade seja devidamente valorizada como terapêutica.

Incredulidade, medo, desesperança são sentimentos naturais em diferentes fases da intervenção entre os pais, e a culpa por senti-los torna tudo ainda mais pesado na árdua caminhada.

Bolhas de sabão representam toda e qualquer brincadeira de engajamento social de puro deleite para a criança, brincadeiras onde a criança nem percebe que está existindo intervenção e se permite explorar, aprender e compartilhar.

E então explico que a bolha de sabão, naquela sessão, foi a atividade selecionada como reforço/recompensa para as respostas assertivas durante a terapia. 

Devemos pensar que para todos os seres humanos a motivação é fundamental, ainda mais falando-se da primeira infância. Os primeiros passos de um terapeuta na intervenção precoce são justamente estabelecer um vínculo saudável com a criança e desenvolver o engajamento dela em atividades compartilhadas. Por trás da ludicidade de uma brincadeira, existe uma metodologia empregada para buscar os resultados.

Por isso é fundamental que vocês pais conheçam os objetivos estabelecidos e as estratégias que os terapeutas utilizam para alcançá-lo. Na própria situação das bolhas de sabão poderiam ser diferentes os objetivos terapêuticos, tais como estimular contato visual, atenção compartilhada, desenvolver habilidades de solicitação, percepção visual, nomeação, aprimoramento da motricidade fina, interação social, seguimento de comandos, além da própria motivação para as sessões de terapia, entre outros.

As técnicas utilizadas com os pacientes são resultados de toda uma bagagem profissional e pessoal de cada terapeuta, e como abordei acima cabe a nós profissionais mostrar aos pais a importância de cada objetivo trabalhado.

E vocês pais, nunca deixem de questionar!  Seu zelo e dedicação são fundamentais nesse processo tão complexo. Mas, lembre-se, a confiança no tratamento é fundamental para um relacionamento saudável entre todas as partes e para o sucesso da terapia.

Até breve,

Mauren Klein

Psicóloga 

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