Essa é uma questão complexa no desenvolvimento da comunicação e se relaciona com aspectos cognitivos e emocionais, como a descoberta do “eu”. É um comportamento presente no desenvolvimento típico, mas quando persistente, pode indicar alterações importantes.
Até os dois anos de idade, aproximadamente, a criança apresenta uma comunicação muito dependente e colada no adulto que está interagindo com ela, especialmente com os pais. Nessa faixa etária ainda é difícil para a criança perceber que existe um “eu” e a sua individualidade, por isso é muito comum que a criança imite e copie o que os outros falam e também o jeito como falam com ela, como quando dizemos “a mamãe vai trabalhar agora” ou “o papai quer brincar”.
É claro que os adultos fazem isso com a intenção de facilitar a compreensão da criança, mas sem perceber, acabam ensinando um padrão de comunicação diferente do usual na língua portuguesa. Outro ponto é que muitas vezes os adultos ao interagirem com a criança constroem enunciados utilizando a terceira pessoa, mencionando a criança de forma equivocada como “a Clara quer comer agora?”.
Portanto, o primeiro cuidado e observação que precisamos ter é nos certificar de que a criança em questão tem à disposição modelos de fala adequados. Mas, se a criança possuir modelos de fala adequados e mesmo assim persistir com esse modelo de construção de frases, este é um importante sinal de alerta.
Falar de si na terceira pessoa pode indicar alterações psiquiátricas ou no neurodesenvolvimento. Este é um padrão de comunicação muito comum em crianças autistas, assim como falar de forma impessoal ou apresentar vocabulário incompatível com a idade cronológica. E vale lembrar que essas alterações podem ou não estar associadas com atraso no desenvolvimento da linguagem.
Ao menor sinal de alerta ou dúvida, procure por profissionais especializados para obter uma opinião e orientações adequadas.
Até mais,