Você já ouviu falar de alguma criança que tem dificuldade para se alimentar? Está cada vez mais comum recebermos no consultório pais muito preocupados com a alimentação dos pequenos, e isso é completamente compreensível. Alimentação é uma das primeiras funções que se estabelece no desenvolvimento da criança e é uma função essencial para manutenção da vida.
O processo alimentar é caracterizado por diversas fases e cada uma delas tem um nível de dificuldade diferente. Estamos falando aqui da amamentação, da introdução alimentar, da evolução de consistências, da autonomia e da independência durante as refeições, entre outros desafios! Mas algumas vezes, a criança não desenvolve habilidades suficientes para avançar nessas etapas.
Um dos quadros mais comuns de ocorrer quando as dificuldades se tornam persistentes é a SELETIVIDADE ALIMENTAR. Para se enquadrar no diagnóstico de seletividade alimentar a criança deve apresentar algumas características como: aceitar comer apenas 20-30 alimentos (contabilizando líquidos, frutas, todo tipo de comida), não apresentar condições médicas que justifiquem a dificuldade alimentar em questão, pouco interesse pelos alimentos e um padrão repetitivo de aceitação.
Nossa conversa hoje será especificamente sobre esse último tópico: padrão repetitivo de aceitação de alimentos, também conhecido como inflexibilidade alimentar. Exemplos de padrões alimentares repetitivos e/ou inflexíveis: a criança só aceita suco de uva de determinada marca; a criança aceita somente um determinado biscoito de sabor e formato específico, etc. Essa é uma alteração muito mais comum do que podemos imaginar! Muitas crianças estabelecem esse padrão de confiança e afetividade com determinados alimentos e não aceitam qualquer coisa que se diferencie, no entanto, devemos ficar atentos e intervir no estabelecimento desse padrão, pois ele pode ocasionar dificuldades futuras na ampliação do cardápio desta criança.
Pensando nisso elaborei 3 dicas práticas para auxiliar na “quebra de padrão” que muitas crianças seletivas estabelecem:
DICA 1: Levar a criança ao supermercado e dar a ela oportunidade de escolha! Você já reparou que as embalagens de alimentos como arroz, feijão e sal são completamente neutras? Isso acontece porque esses são os alimentos considerados essenciais, são a base do nosso padrão alimentar e as crianças não são seu público-alvo. Muito diferente acontece com os alimentos direcionados para o público infantil, como iogurtes, salgadinhos, bolachas e sucos de caixinha. As embalagens são produzidas justamente para seduzir e encantar as crianças, e porque não usar isso a nosso favor? Muitas vezes compramos uma opção diferente e a criança rejeita, porém se ela tiver 10 opções em sua frente e alguma delas despertar o seu interesse, conseguimos uma ótima motivação para a quebra do padrão!
DICA 2: Realizar refeições com outras crianças. Geralmente as crianças realizam suas refeições com os pais ou responsáveis, e a linguagem utilizada por nós, adultos, na abordagem de tentar inserir um novo alimento, pode gerar um efeito diferente do que imaginamos. Mesmo sem perceber podemos estar sendo impositivos, deixando a criança mais resistente. No convívio com crianças da mesma idade essa comunicação é completamente diferente, muitas vezes estimulante e envolvente, aumentando as possibilidades da criança se permitir experimentar algo novo!
DICA 3: Fazer parte de preparos. Levar a criança para cozinha e deixar ela se envolver na manipulação dos alimentos pode ser uma ótima idéia para quebra de padrões! Já pensou em utilizar aquela bolacha preferida na preparação de uma torta? Pegar aquela fruta específica que a criança aceita e fazer um suco? É difícil imaginar, mas muitas crianças não compreendem que o mesmo alimento pode ser preparado de várias maneiras até que ela mesma coloque a “mão na massa” e entenda esse processo. Vale a pena tentar!
Gostou das dicas?
Em breve continuaremos conversando sobre Seletividade Alimentar!
Até a próxima,
Jéssica Batista
Fonoaudióloga
CRFa3 – 10287