Temos abordado em nossos posts temas relacionados ao desenvolvimento da linguagem e da fala, assim como alterações que comumente temos encontrado em nossas crianças. Hoje converso com vocês sobre mais uma dessas alterações: a Apraxia de Fala.

Ao nascer nosso cérebro não está completamente maturado para realizar os movimentos da fala. Tudo inicia com a lalação por volta dos oito meses e com o passar do tempo e da estimulação os movimentos de lábios, língua e mandíbula começam a diferenciar-se. Esse refinamento dos movimentos de tais estruturas e a coordenação dos movimentos para o ato da fala pode acontecer até por volta dos seis anos de idade. Quando esse refinamento não acontece, e erros na fala passam a persistir e tornarem-se diferentes dos erros caracterizados pelas trocas comuns na fala, os chamados Desvios Fonológicos, tema já tratado em post anterior, temos aí uma suspeita de Apraxia.

 

Apraxia de Fala na Infância – AFI

A Apraxia de Fala na Infância (AFI) caracteriza-se por comprometimento na articulação, com alterações na sequência de movimentos musculares necessários para a produção voluntária dos fonemas. Pode acometer também a prosódia, sendo que a criança apresenta uma fala mais lentificada e com padrões de entonação, ritmo e melodia diferentes. A Apraxia trata-se de um quadro de ordem neurológica, onde os movimentos que permeiam a fala estão prejudicados no planejamento e/ou programação de parâmetros espaço-temporais das sequências de movimentos necessários para a fala, o que resulta em erros nessa produção, porém não há déficits neuromusculares.

Segundo a ASHA (Academia Americana de Apraxia) em 2007 definiu-se três contextos clínicos diferentes que poderiam indicar uma criança com Apraxia:

  1. Podem estar associadas à etiologia neurológica conhecida (doença intra-uterina) infecções e trauma.
  2. Ocorrem como sinal primário ou secundário em crianças com desordens neurocomportamentais complexas – genético metabólico.
  3. Não estar associada a qualquer desordem neurológica conhecida ou neuro- comportamental.

Hall (2007) apresenta algumas características nas quais se pode suspeitar de um quadro de Apraxia:

– Bebês considerados “quietos”; que vocalizam e balbuciam pouco;

– Repertório limitado de vogais (dificuldade em produzir as vogais) e de consoantes;

– Variabilidade de erros (a criança pode apresentar diferentes “trocas na fala”). Fala de difícil compreensão;

– Maior número de erros quanto maior a complexidade silábica ou discursiva (quanto mais extensa a palavra, maior será a dificuldade);

– Instabilidade na produção da fala (tem dia que a fala está pior, ou melhor);

– Alteração prosódica (melodia da fala é diferente/”estranha”). Fala pode ser monótona;

– Déficits no tempo de duração dos fonemas, pausas (podem apresentar prolongamentos, hesitações). “Lentidão” para falar.

– Procura do ponto articulatório (a criança fica procurando o ponto articulatório, por exemplo, ao falar “pato”, pode falar “bato” “cato” “lato”…até chegar no “pato”.

– Pobre inventário fonético: pobre domínio dos sons da fala. Os pais têm a impressão de que a criança não sabe o que fazer com a boca, parece desconhecer os movimentos necessários para a fala (não movimenta adequadamente a língua);

– Atraso no aparecimento das primeiras palavras (os pais relatam que demorou a começar a falar);

– Alterações em outros aspectos da linguagem oral (como por exemplo, vocabulário pobre, dificuldade para produzir frases mais elaboradas, para relatar fatos, etc);

– Pode apresentar além da dificuldade motora na fala, outras dificuldades, como na coordenação motora fina, para se alimentar, mastigar, se vestir, para andar de bicicleta (os pais podem perceber uma inabilidade motora geral).

 

Como diagnosticar?

Infelizmente ainda é difícil fazer o diagnóstico precocemente, ou seja, antes dos dois anos de idade, tendo em vista a dificuldade da criança em compreender as instruções das tarefas que deve realizar com as estruturas necessárias para a fala. Também não existe um exame específico para tal diagnóstico. Ele é realizado através da história de desenvolvimento de linguagem da criança, das medidas de articulação, de tarefas de leitura e fala, bem como da capacidade que a pessoa tem em realizar movimentos orais rápidos alternadamente.

Diante da dificuldade de exames a fazer para diagnóstico precoce o que os pais devem fazer é buscar um profissional capacitado para trabalhar com o desenvolvimento da linguagem oral dessa criança e no decorrer do processe diante do desenvolvimento que a criança deverá apresentar fazer o diagnóstico diferencial entre simples atraso no desenvolvimento da comunicação verbal, apraxia de fala ou outros Transtornos de Linguagem.

Os pais, pediatras, professores e fonoaudiólogos precisam ficar atentos, e oferecer uma intervenção precoce sempre que se suspeitar do caso. Já existem métodos terapêuticos específicos para os casos de Apraxia de Fala, que oferecem à criança estímulos direcionados ao desenvolvimento do planejamento motor para a fala.

Na dúvida, vale uma consulta com especialistas.

Até a próxima!

Fabiane Klann Baptistoti

Fonoaudióloga

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