Tudo que é novo e diferente chama a atenção, não é mesmo? Somos movidos muitas vezes pela curiosidade, e com as crianças esse conceito é ainda mais forte! Quantos brinquedos eram amados pelo seu filho e hoje ele passa ao lado e parece que nem vê?!
O comum se torna desinteressante… Será que o mesmo não acontece com os alimentos?
Quantas vezes você ofereceu banana para o seu filho e ele não aceitou? Ou talvez batata? Muitas? Esse é um relato muito comum dos pais no consultório. Mas será que o seu filho tem alguma motivação para querer experimentar esse “novo alimento”?
É difícil imaginarmos quantas maneiras diferentes temos para apresentar o mesmo alimento, e mais difícil ainda é pensarmos em como isso impacta no processo de aceitação alimentar de uma criança. Normalmente temos um padrão de apresentação e preparação dos alimentos que é característico de cada família e ele se estabelece de acordo com as vivências, experiências, cultura e hábitos alimentares, porém quando falamos de crianças com seletividade alimentar, utilizar diferentes formas de apresentação do mesmo alimento pode ser uma maneira eficaz de estimular o interesse e a curiosidade pela alimentação.
A seletividade alimentar pode acontecer por diversos motivos, mas vemos cada vez mais no consultório a relação próxima com questões de ordem sensorial (leia mais aqui). No caso de crianças com Transtorno do Espectro Autista essa relação é ainda mais forte, por características próprias do quadro, e por isso, oferecer o alimento diversas vezes e de diversas formas, variando principalmente textura e consistência, pode gerar uma agradável surpresa!
RELATO DE UM JOVEM AUTISTA
No livro “Tudo que eu posso ser”, escrito por Nicolas Brito e sua mãe Anita Brito, o jovem escritor relata aspectos do seu desenvolvimento e particularidades do seu “mundo autista”. No capítulo sobre alimentação Nicolas dá um conselho aos pais e eu gostaria de dividir com vocês:
“Meus conselhos para quem tem filho (nem precisa ser autista) que tenha dificuldade de comer: preparem as comidas deles de forma diferente e conversem com eles o quanto é importante eles comerem bem. Eu odiava ovo, aliás, ODEIO! Mas minha mãe já fez de tantas formas diferentes que eu já até consegui comer ovo e já gostei de uma fritada que ela fez e de um ovo mexido que meu pai fez.”
Não podemos ignorar uma dica tão valiosa, e eu garanto, a mudança na apresentação e as novas experiências aumentam consideravelmente as possibilidades de aceitação do alimento desejado! Use a criatividade e modifique o momento da alimentação. E por quê não torná-lo divertido?
Vamos pensar em um alimento simples: a cenoura!
Ela pode ser oferecida de muitas maneiras diferentes, MUITAS! A cenoura inteira, cortada em rodelas, em cubos, em palitinhos, todas essas opções cruas tornam este alimento crocante, temos ainda a opção de apresentar a cenoura ralada em fios longos imitando macarrão ou aguçando a imaginação como o cabelo de algum personagem. Se pensarmos na cenoura cozida temos as mesmas opções de formato, porém com a consistência mais macia. Além disso, podemos fazer um purê de cenoura, podemos surpreender colocando pedaços de cenoura em um palitinho, usando na decoração de pratos divertidos, acrescentando em sucos e muito mais. Use a criatividade!
É claro que essas tentativas não irão resolver por completo a alteração alimentar de uma criança, mas poderão melhorar a relação afetiva e emocional e proporcionar momentos mais alegres e leves no momento da alimentação!
E vale lembrar que essas dicas são importantes para toda e qualquer criança. Afinal, quem não quer comer com prazer? Aproveite as férias e realize atividades que envolvam alimentos, no texto “5 atividades para realizar em casa e melhorar a relação do seu filho com os alimentos” temos idéias super simples e divertidas, vale a pena conferir!
Imagens:
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https://boaforma.abril.com.br/dieta/cafe-da-manha-4-maneiras-de-preparar-ovos-que-voce-nao-conhecia/
Até breve,
Jéssica Batista
Fonoaudióloga