O dia a dia da clínica faz com que experimentamos diferentes sentimentos tendo em vista ser um lugar de partilha de vidas, aflições, alegrias, conquistas e expectativas. Nesse cenário há sempre dois “sentimentos” que emergem e que muitas vezes são conflituosos entre os interlocutores de um diálogo. É sobre empatia e condescendência que hoje desejo conversar com vocês.

O que é empatia e condescendência?

Empatia e condescendência estão no nosso dia a dia como palavras-chave e permeiam todas as relações. Muitas vezes essas palavras são usadas sem muito critério quanto ao seu real significado. 

Empatia, diferente do que muitos pensam, não é concordar com o outro, é compreender o estado emocional do outro sem confundir-se com o outro. É perceber o que o outro vive buscando apoiá-lo dentro do que lhe é possível. Ser empático é vivenciar a experiência, boa ou ruim, do outro sem perder de vista que você não é o outro. Empatia não é um sentimento, é um comportamento frente ao outro. Sou empático com alguém quando compreendo seus valores, suas atitudes, seus sentimentos, frente a um acontecimento, oferecendo meu apoio, sempre mantendo meu distanciamento emocional e sem perder meus valores enquanto ser humano.

Já a condescendência é o ato de ceder ao outro, as vontades do outro, as verdades do outro mesmo que sejam incoerentes, pelo simples fato de não querer desagradar ou ter medo de se colocar diante de um fato. Assim como a empatia, condescendência não é um sentimento, é um comportamento.

Onde esses conceitos entram no dia a dia de um terapeuta?

Quem nunca, como terapeuta, passou pela experiência de estar com uma família e muitas vezes diante da colocação dos pais precisar tomar uma atitude que não vai ao encontro do que eles pensam?

Quem nunca teve receio de perder seu paciente e por isso concordou com o que a família estava colocando para tentar em outro momento, conversar apenas com um membro do casal e expôr suas reais ideais?

Seja por imaturidade profissional, receio da perda, não gostar de se opôr, entre outros diferentes sentimentos que não entram na questão de julgamento aqui nesse momento, todos nós terapêutas já vivenciamos esse conflito.

Muitas vezes quando discordamos da opinião de uma família, ou até mesmo da opinião de um colega de trabalho somos acusados de não ter empatia. Nesse momento aparece a clássica expressão: “Ela não tem a menor empatia!”

Essas experiências ficam cada dia mais evidentes principalmente quando estamos dando o retorno de uma avaliação ou quando os pais nos fazem questionamentos que sabemos que nossas respostas serão um “balde de água fria” diante das suas expectativas.

Meus dias muitas vezes são recheados desses baldes, e os seus?

Mas e daí, como se posicionar diante de uma clínica onde nos responsabilizamos pelo desenvolvimento do outro muitas vezes com um panorama nem sempre claro de informações?

Todo terapeuta é empático com a família quando os instrumenta com informações e com ações que irão melhorar suas condutas com seus filhos, quando esclarece seu ponto de vista tendo como base estudos realizados, quando acolhe a família dando exemplos que os façam vislumbrar um futuro mais promissor.

Entre ser empático e condescendente

Discordar de um diagnóstico ou de um caminho terapêutico nada tem haver com não ser empático. Muito pelo contrário, por ser empático, com a criança, com o paciente, é que o terapeuta precisa não ser condescendente com a opinião da família e/ou de colegas de trabalho. Precisa acima de tudo, ter a sua opinião clara e ética sobre o caso e a conduta a ser tomada.

Podemos sim concordar com o que a família traz, desde que seja também a sua opinião, o olhar claro sobre o caso.

Somente sendo empático com seu paciente, entenderá o que este precisará para desenvolver-se com plenitude frente aos seus déficits.

Até nosso próximo post,

Fabiane Klann Baptistoti

Fonoaudióloga

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