Uma das queixas mais comuns das famílias que procuram auxílio devido a dificuldade alimentar de seus filhos é a recusa persistente de frutas. Esse padrão não surge por acaso, o grupo alimentar com mais variações e informações a serem processadas pela criança é o das frutas, tornando-se assim um grande desafio para os pequenos.

No texto de hoje vamos conversar sobre os aspectos que tornam a aceitação das frutas tão desafiadora e sobre estratégias que potencializam as chances de aproximação do seu filho com esse grupo alimentar tão nutritivo e importante para o desenvolvimento infantil como um todo.

A primeira coisa que precisamos levar em consideração é a complexidade de informações que as frutas trazem. Dificilmente paramos para pensar nas características dos alimentos, mas, de maneira geral, podemos pensar que cada alimento tem um formato, cor, consistência, textura, cheiro e temperatura específicos. Todas essas informações são processadas de maneira agrupada pelo nosso sistema sensorial, e por isso, muitas crianças apresentam resistência quando expostas de maneira invasiva a uma fruta, não apresentando habilidades suficientes para encarar o desafio de processar todas as informações citadas acima.

A recusa alimentar frequente de crianças com seletividade alimentar pode ser um sinal de que ela não está preparada para o contato que estamos exigindo no momento de comer, podendo ser ele apenas sentir o cheiro do alimento, tocar ou até mesmo colocá-lo na boca. É comum observarmos um padrão de consistência nos alimentos aceitos por cada criança, sendo os mais predominantes “crocantes ou homogêneos”, e essas preferências muitas vezes são estratégias criadas pela criança para aceitar sempre alimentos com características parecidas, os quais ela já tem informação suficiente para lidar e não precisa enfrentar um novo estímulo a cada refeição.

Muitas famílias vivenciam essa dificuldade na sua rotina e quando procuram ajuda já acreditam ser impossível seu filho voltar/começar a aceitar frutas. Na maioria dos casos, conforme a criança recusa repetidas vezes um determinado alimento os pais deixam de oferecer, assumindo como verdade absoluta que a criança não gosta daquele alimento específico, ou até mesmo do grupo alimentar inteiro, no caso, as frutas. A primeira orientação nesses casos é justamente deixar esses alimentos presentes na rotina dessa criança, não com a intenção que ela aceite experimentar, mas com o objetivo de manter uma relação de contato e assim de acomodação e identificação das características desse alimento: seu formato, seu cheiro, sua consistência e etc. As frutas apresentam variação de sabor, algumas vezes são mais doces, outras vezes mais ácidas, podem estar mais maduras ou mais verdes, influenciando também na sua consistência, e esse padrão de inconsistência é altamente desafiador para as crianças, sendo assim, aumentar e manter o contato da criança com as frutas é um caminho necessário.

Pensando no universo infantil o ideal é que essa aproximação venha sempre acompanhada de uma boa dose de diversão, afinal, assim conseguimos estabelecer relação de afetividade com os alimentos. Experimente convidar a criança para ir até a feira ou mercado, deixe ela observar, escolher, tocar, ser protagonista nesse momento de exposição. Inclua a criança em momentos da rotina como retirar as frutas das sacolas, lavar e secar, guardar na geladeira e colocar nos recipientes adequados. Observe como seu filho se comporta nesses momentos e vá aumentando gradativamente a participação dele aproveitando momentos comuns como descascar e picar frutas, preparar receitas e etc.

A introdução de novos alimentos é um desafio que deve ser vivenciado por pais e filhos de maneira leve e divertida, regada com doses diárias de otimismo e paciência. Em caso de persistência nos padrões alimentares restritivos procure ajuda profissional.

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