Está cada vez mais comum receber pais no consultório com a queixa de que seu filho não se alimenta bem. Frases como “meu filho não come nada, eu não sei mais o que fazer” ou “ele é muito ruim para comer, preciso de ajuda” estão se repetindo dia após dia.
Muitos pais, sobretudo as mães, se sentem culpados quando seus filhos tem dificuldade para comer ou são resistentes para comer alguns alimentos. Quando percebo esse sentimento de culpa nos pais, gosto sempre de fazer uma analogia: Os pássaros alimentam seus filhos no ninho e se mantêm por perto até que eles sejam aptos a voar e procurar seu próprio alimento! Esse é o instinto animal, só estamos tranquilos quando vemos nossos filhos “bem nutridos”.
No processo de alimentação é onde se criam os primeiros vínculos emocionais entre mães e filhos, somente esse fato isolado já explicaria grande parte dos sentimentos e inseguranças das mães que não conseguem alimentar suas crianças, porém muitos outros aspectos estão envolvidos, afinal todos nós precisamos compreender que a alimentação é complexa!
Comer não é tão instintivo quanto você pensa
Quando nascemos, comer é um ato instintivo, mas apenas nas primeiras semanas de vida. Depois, vira um comportamento a ser aprendido que exige uma enorme coordenação motora e um planejamento que poucas habilidades precisam. Para se ter uma ideia, o simples ato de engolir envolve 26 músculos diferentes e 6 nervos cranianos, você com certeza nunca ouviu essa informação, mas pode acreditar, comer é mais difícil do que andar ou falar!
Definitivamente as mães não têm culpa! Esse sentimento muitas vezes é baseado no desejo de ser uma mãe perfeita que idealiza um filho perfeito, e filhos perfeitos comem de tudo! Ainda hoje a sociedade de maneira geral tem um olhar restrito para aqueles que apresentam alguma dificuldade ou simplesmente fogem de um padrão determinado. Porém sabemos que com alimentação as estatísticas nos mostram que as dificuldades são mais comuns do que imaginamos.
Pesquisas internacionais mostram que as dificuldades alimentares podem afetar até 30% das crianças com desenvolvimento típico e até 80% das crianças com alguma dificuldade no desenvolvimento.
A alimentação é complexa, não só pra você e para o seu filho, mas para muitas famílias que vivenciam as dificuldades da seletividade e da recusa alimentar. As causas são diversas, muitas vezes temos mais de um fator desencadeante, mas esse é um assunto que vamos discutir em um próximo momento.
Como profissional que já lidou muitas vezes com o sentimento de frustração e culpa dos pais percebo que nenhuma abordagem que visa diagnosticar e tratar a criança com qualquer desafio para se alimentar será eficaz se você não souber compreender o todo: o contexto familiar, os aspectos emocionais, nutricionais, fonoaudiológicos e sensoriais!
Os pais precisam de orientação dos mais variados profissionais: psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, médico. E a criança será realmente beneficiada quando houver uma intervenção interdisciplinar que inclua todos os aspectos envolvidos no seu grande desafio: se alimentar! No Centro Evolvere contamos com uma equipe capacitada que presta atendimento interdisciplinar visando o melhor desenvolvimento da criança e considerando a importância da participação da família.
Até breve,
Jéssica Batista
Fonoaudióloga