Durante o desenvolvimento da criança o modo como ela brinca evolui gradativamente. Uma das etapas envolve a capacidade de realizar brincadeiras abstratas e simbólicas. Esse assunto é amplamente divulgado no universo do desenvolvimento infantil pois a ausência dessa habilidade indica necessidade de atenção ou até de intervenção especializada.

Mas o que é brincadeira simbólica e porque ela é tão importante?

A função simbólica é uma função da linguagem que se refere a capacidade de representar algo, ou seja, tem relação com a criação de imagens mentais sobre algo, a habilidade de imaginar, encenar e recriar.

A brincadeira simbólica vai além de uma atividade lúdica, ela pode revelar muito dos interesses individuais da criança, suas necessidades e o nível de desenvolvimento cognitivo já alcançado.

Mas essa capacidade simbólica precisa ser desenvolvida e não é a primeira forma de brincar que uma criança demonstra. Durante o desenvolvimento infantil a criança desenvolve habilidades específicas em cada faixa etária e o desenvolvimento da brincadeira possui etapas que são conhecidas como: 1) as fases sensório-motora; 2) pré-simbólica e 3) simbólica.

A fase do brincar sensório-motor acontece até aproximadamente os 2 anos de idade e é a fase na qual a criança atua com os brinquedos de modo a explorá-los manuseando-os rapidamente e de vez em quando parando para analisar um ou outro objeto. É uma exploração mais rápida e superficial, envolvendo habilidades motoras menos refinadas.

Logo após a criança entra na fase das condutas pré-simbólicas e fazem parte desta etapa:

– o uso convencional dos objetos: a criança usa os objetos na brincadeira de modo convencional, ou seja, se ela finge que está tomando banho e precisa da esponja e do sabonete real, precisa de um pente ou escova real para pentear o cabelo. Os objetos que estão envolvidos no brincar são objetos que fazem parte do seu dia a dia. As ações que a criança desenvolve nesse brincar são ações que ela mesma vivencia, como tomar banho, comer, vestir-se. Normalmente ela imita a mãe ou quem desenvolve tais ações com ela. O brincar ainda está centrado nela mesma e em suas necessidades.

– os esquemas simbólicos: nessa fase a criança já aceita pequenas miniaturas para desenvolver sua brincadeira as quais continuam a envolver suas ações rotineiras.

– a aplicação das ações em terceiros: aqui uma nova fase se inicia, que é quando a criança passa a praticar ações rotineiras em terceiros, sejam pessoas e/ou bonecos. O cabelo a ser penteado agora é o da mamãe, da vovó. Pessoas e bonecos estão na brincadeira sofrendo a ação. Quando esse tipo de faz de conta se inicia a criança dá mostras de que conseguiu diferenciar ela e o outro, que consegue discriminar ações nela e no outro assim como ações dela e dos outros.

Passada essa primeira fase do brincar inicia-se a fase das condutas simbólicas, que envolvem:

– a sistematização da aplicação em outros: aqui a criança “permite” que o outro faça durante a brincadeira as mesmas ações que ela faz. A criança julga se o outro quer ser alimentado, vestido e até mesmo se quer dormir. Ela já consegue dar uma ordem verbal e esperar a reação do outro.

– o sequenciamento de ações simbólicas: o salto qualitativo desta fase é a capacidade da criança de desenvolver ações em sequência de ações, demonstrando começar a ter a noção temporoespacial. Por exemplo: ao invés de colocar o boneco para dormir, ela primeiro coloca ele para tomar banho, seca, veste o pijama e depois coloca-o na cama. Há nesse momento o planejamento de ações em sequência e a possibilidade de antecipar eventos.

– o uso de símbolos: esta é a última fase do desenvolvimento da brincadeira simbólica e consiste na possibilidade da criança desligar-se dos objetos concretos e criar com outros itens ou na imaginação o objeto o que deseja. Por exemplo: a criança quer colocar a boneca para dormir mas não tem uma cama, então ela pega um pedaço de papel e finge ser a cama; ela quer dar comida à sua boneca, mas não tem prato nem talher, então ela pega uma caixinha de fósforo e um palito e finge ser o prato e o talher. A capacidade simbólica e de representação se completa quando objetos são transformados em outros ou quando o gesto ou as palavras sustentam ou criam, de forma fictícia, um fato/objeto ausente.

Podemos ver aqui que brincar de modo simbólico é um percurso gradativo e esta habilidade está totalmente entrelaçada com desenvolvimento da linguagem e cognitivo.  Uma criança necessita primeiro vivenciar contextos concretos, para só então ser capaz de criar imagens mentais e ter habilidades de representação disponíveis para brincar simbolicamente.

Caso você observe dificuldades na sua criança que envolvem a brincadeira, a interação e habilidades sociais, busque uma avaliação especializada. Nossa equipe pode te ajudar!

Até o próximo post!

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