1. Fala x Linguagem

A primeira coisa que precisamos compreender é a diferença nada óbvia entre FALA e LINGUAGEM. Quando os profissionais usam o termo “fala” eles estão se referindo exclusivamente ao ato motor realizado para falar, isto é, a todo o ajuste feito pelos órgãos fonoarticulatórios para fazer determinada emissão sonora.

Já o termo “linguagem” diz respeito a um conceito mais amplo e complexo, que inclui os processos mentais de PLANEJAR, SELECIONAR, CONSTRUIR, ORGANIZAR, COMPREENDER e INTERPRETAR. Sendo assim, a linguagem não se limita a oralidade, ao contrário, ela pode acontecer de muitas maneiras, como por exemplo, através de gestos.

 

  1. Motricidade/Psicomotricidade

Motricidade, por definição, diz respeito ao conjunto de funções nervosas e musculares que permite os movimentos voluntários ou automáticos do corpo.

Um prejuízo no desenvolvimento da motricidade pode fazer com que um simples gesto de apontar para algo desejado se torne um desafio. Podemos encontrar dificuldades amplas, como caminhar, subir e descer escadas e equilibrar-se em situações adversas; na motricidade fina como não conseguir realizar o movimento de pinça para segurar um lápis e pegar coisas finas ou miúdas; ou ainda alterações na motricidade orofacial – área de atuação fonoaudiológica que se refere à musculatura e funções dos órgãos fonoarticulatórios – como hipotonia, redução de amplitude ou alteração na mobilidade de lábios, língua e bochecha.

A criança com alterações na motricidade pode apresentar atos motores aproximados ou ainda desenvolver compensações para uma determinada ação. Deste modo, nota-se que ganhos na motricidade grossa e fina influenciam positivamente na oralidade.

 

  1. Apraxia de Fala

É uma alteração no planejamento motor da fala presente em muitos casos de Síndrome de Down, como comorbidade. Para além das dificuldades na motricidade orofacial, nota-se que a criança com apraxia apresenta padrão inconsistente de produção das palavras, com piora quanto maior ou mais complexa a palavra. A fala espontânea apresenta inteligibilidade pior do que a fala direcionada ou imitada, especialmente porque na fala espontânea não temos um modelo de produção e a velocidade para planejar e coordenar os órgãos fonoarticulatórios é menor.

Há ainda várias outras características, dentre as quais podemos citar a monotonia na melodia da fala, dificuldade na produção de vogais, na diferenciação entre vogais abertas e fechadas (exemplo: “ê/é) e na imitação de movimentos orais e expressões faciais.

O diagnóstico de apraxia é diferencial, ou seja, acontece a partir de muita investigação  e exclusão de outros quadros que possuem características semelhantes.

 

  1. Atenção

É comum que crianças com Síndrome de Down necessitem de maior tempo do que as crianças de mesma faixa etária para direcionar sua atenção para um estímulo e para alternar entre estímulos, como por exemplo, quando o adulto aponta para a criança um objeto distante e a criança necessita olhar para o objeto, fazer uma tomada de decisão ou comentário, e retornar sua atenção para o interlocutor. Deste modo, você pode observar que algumas vezes apesar de a criança ter um determinado conceito adquirido, ela pode não executar a ação solicitada.

 

  1. Uso de gestos

Sabe-se que mesmo no desenvolvimento típico, as crianças fazem uso de gestos e se beneficiam deles, para complementar, substituir ou reforçar o que querem dizer quando ainda não possuem vocabulário bem estabelecido. O uso de gestos com o objetivo de enfatizar o conteúdo, especialmente, nos acompanha por toda a vida. Mas então o que é diferente na Síndrome de Down?

A diferença é que os gestos são utilizados por um tempo significativamente superior ao que observamos no desenvolvimento típico. Porém, ao contrário do que se pensa, os gestos são essenciais para o desenvolvimento da linguagem oral e, inclusive, são facilitadores do processo e podem ser usados como preciosos marcadores por profissionais, familiares e professores.

 

E a dica mais valiosa é, sem dúvida, o RESPEITO.

 

Tatiane Moraes Garcez

Fonoaudióloga

CRFa 3R/10295

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