Atualmente o conhecimento e o acesso à tecnologia não é somente comum, mas necessário. Desde muito pequenas, as crianças estão imersas em experiências virtuais, inclusive na Educação. Mas até que ponto isso é positivo?

Estudos populacionais têm mostrado que mais da metade das crianças de 0 – 4 anos sabem manusear celulares, televisores e tablets com autonomia e utilizam esses aparelhos eletrônicos com intensidade.

As entidades científicas da saúde e da educação têm apontado que o uso de eletrônicos na infância pode trazer riscos significativos para a saúde das crianças. O assunto começou a tomar corpo nacionalmente em 2016, ano em que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBp) lançou um manual de orientações sobre a saúde de crianças e adolescentes na Era Digital.

Observe a seguir os tempos recomendados para acesso e as especificidades ponderadas para cada idade.

FAIXA ETÁRIA RECOMENDAÇÃO
0 a 2 anos Os profissionais da saúde e da educação devem disseminar a informação de que nessa faixa etária o bebê não deve ser exposto a mídias e conteúdos digitais, pois esse período é de extrema importância para o desenvolvimento cognitivo. Os pais de crianças desta faixa etária devem proibir e não estimular o uso de eletrônicos, especialmente como forma de compensação para tarefas e antes de dormir.
2 a 5 anos O tempo de exposição deve limitar-se a, no máximo, 1 hora por dia. Esse período inclui todos os tipos de aparelhos eletrônicos, somando televisão, tablets e celulares. A mídia utilizada deve ser própria para a faixa etária e monitorada.
Acima de 5 anos A exposição iniciada deve ser gradativa e ainda assim controlada. A diferenciação de ficção e realidade começa a surgir após os 6 anos de idade, de modo que, as crianças abaixo dessa idade não devem ter acesso a conteúdos desse gênero. A rotina e o horário de sono devem ser respeitados (8 a 9 horas por noite).

 

Dentre os prejuízos causados pelo acesso indiscriminado e precoce à tecnologia, podemos destacar a pobre coordenação motora fina, o déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), excesso de peso e/ou obesidade infantil, agressividade, comportamento antissocial, depressão, medo, dificuldade para diferenciar ficção de realidade, indução de comportamentos inadequados como bullying, preconceito e consumismo, exposição demasiadamente precoce a conteúdos explícitos e violentos, falta de empatia, bem como prejuízos cognitivos que envolvem memória, atenção, criatividade, planejamento e organização.

Na prática clínica observamos principalmente prejuízo no desenvolvimento da motricidade fina, uma vez que a exigência do touch screen é apenas de toque ou deslize; prejuízo na regulação do ciclo sono-vigília, isto é, rotina para dormir; e prejuízo no desenvolvimento de habilidades comunicativas e emocionais, pois o ambiente individual de interação digital propicia o isolamento, o acesso imediato a todo tipo de conteúdo, entre outros problemas.

Na pré-adolescência as questões emocionais ganham mais peso, pois é um período de busca por identidade e aceitação, onde outros perigos podem surgir. A cada dia são mais frequentes os casos de auto-mutilação e suicídio entre adolescentes. Muitos desses casos possuem relação com um frágil desenvolvimento das habilidades emocionais e os pais devem redobrar a atenção e o monitoramento de quais conteúdos seu filho consome.

O que recomendamos?

  • Observe as indicações para a faixa etária do seu filho e mantenha uma rotina organizada para que você não libere o uso de eletrônicos quando não for o momento planejado. 
  • Entre 2 e 5 anos selecione o que a criança irá assistir e não o deixe livre com o dispositivo. Priorize materiais educativos, especialmente os que estimulam a linguagem oral.
  • Se você realizar um acordo com a criança siga-o até o final, seja para liberar o acesso ou não. Quebrar combinados é uma das formas mais frequentes de ensinar para o seu filho que ele consegue vencer você no “cansaço”, aumentando a frequência de comportamentos indesejados.
  • Não substitua momentos de afetividade por momentos de isolamento com eletrônicos. Apesar de serem uma ferramenta de incrível apoio, uma criança sempre terá mais oportunidades de aprendizado e afetividade no mundo real.

Fique atento!

Tatiane Moraes Garcez

Fonoaudióloga CRFa 3R/10295

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