Atualmente venho me deparando na clínica com algumas crianças que a princípio parecem ter dificuldade em lidar com regras e limites. Crianças que apresentam bom vocabulário que parecem estar constantemente em desafio consigo mesma e com os outros.

Na visão de muitos adultos tais crianças dão a impressão de serem “mal educadas”, desobedientes, mas o caso não é tão simples assim. Precisamos analisar muito bem o comportamento da criança, estudar o assunto para podermos oferecer o melhor caminho à família e acima de tudo para que essa criança possa desenvolver-se tranquilamente.

Vamos pensar um pouco sobre o assunto?

Segundo o psiquiatra Gustavo Teixeira o Transtorno Opositor-Desafiante “…. é um conjunto de comportamentos profundamente perturbadores da harmonia familiar e impeditivos para o ajuste escolar e a maioria dos contextos sociais que compõem o trajeto de construção de uma vida produtiva e com laços afetivos duradouros.”

De acordo com outro Copetti, a criança apresenta um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiante que dura, pelo menos, 6 meses, durante o qual 4 ou mais dos sintomas abaixo devem estar presentes:

  1. Muitas vezes perde a calma;
  2. Frequentemente discute com adultos;
  3. Muitas vezes ativamente desafia ou se recusa a cumprir as regras ou comandos dos adultos;
  4. Muitas vezes incomoda as pessoas deliberadamente;
  5. Muitas vezes culpa os outros por seus próprios erros ou mau comportamento;
  6. É suscetível ou facilmente aborrecido pelos outros;
  7. Frequentemente apresenta raiva e ressentimento;
  8. Frequentemente é rancoroso ou vingativo.

Como fator complicador em muitas crianças há a possibilidade de aparecer os comportamentos ligados ao Transtorno Opositor Desafiante – TOD juntamente com outros quadros tais como: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, Depressão Severa, Transtorno Bipolar, Transtorno de Linguagem e Transtorno de Ansiedade; o que torna o diagnóstico ainda mais complexo.

As causas são multifatoriais podendo estar presente desde componentes genéticos até problemas de educação. Normalmente por volta dos 6 aos 8 anos de idade os comportamentos tornam-se exacerbados, porém muito antes dessa idade a criança já apresenta sinais da sua baixa tolerância ao outro e as regras.

Na família é onde se iniciam os principais comportamentos desafiadores, mas na escola é que eles aparecem de modo desproporcional. Nesse local podem aparecer os seguintes comportamentos:

– discussão com os professores e

– recusa ao trabalho em grupo;

– não aceita ordens;

– não realiza os deveres escolares;

– não aceita críticas;

– desafia a autoridade de professores e coordenadores;

– deseja tudo ao seu modo;

– é o chamado “pavio curto” ou “esquentado” da turma;

– perturba outros alunos;

– responsabiliza os outros por seu comportamento hostil.

Certamente é um assunto que deve ser tratado com muita cautela pelos adultos, porém não podemos negligenciar ao ponto de fecharmos nossos olhos sob pena de que a criança pode “pagar” um preço bastante alto no decorrer do seu desenvolvimento.

Segundo os especialistas quadros de TOD que aparecem precocemente, ou seja, antes dos 6 anos de idade, se não receberem o devido cuidado podem evoluir na adolescência para  quadros de Transtorno de Conduta, entre outros.

Sendo assim, é importante que cada profissional que está envolvido no desenvolvimento de uma criança e as famílias que se encontram com seus pequenos desafiadores, abram os olhos e discutam com transparência o assunto.

Crianças opositoras-desafiadoras existem, não são mal educadas e devem receber o tratamento mais adequado para o seu caso.

Até a próxima semana,

Fabiane Klann Baptistoti Sà – Fonoaudióloga Clínica

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