Quando estamos fazendo a avaliação de uma criança pequena ou até mesmo quando já estamos em processo terapêutico, os pais muitas vezes falam: “Olha ele está querendo falar!”. Na verdade muitas crianças estão apenas vocalizando e não verbalizando. Essa dúvida é muitas vezes a mesma quando estamos falando de voz e fala. Então resolvi escrever esse post para que você possa aprender a reconhecer o que de fato sua criança está realizando e quais as diferenças entre as etapas. Vamos lá?
O que é vocalizar?
Para falar sobre vocalização vamos entender o conceito de voz. Voz é o som produzido pelo ar que vem dos pulmões e passa pela laringe fazendo vibrar as pregas vocais. Ao abrir a boca e soltar esse ar vamos ter um determinado som que normalmente se assemelha a vogal /a/.
A vocalização acontece nos bebês por volta dos 2 para 3 meses quando começa a soltar gritinhos demonstrando começar a perceber a presença do outro. Esses gritinhos que muitas vezes podem vir em forma de vogais tornam-se variados pelo exercício motor que o bebê começa a fazer com suas estruturas orais, principalmente com a boca (abrir, protruir, retrair).
Para que esses sons continuem a se desenvolver é necessário que o adulto estimule o bebê ampliando o repertório de sons, ou seja, é o adulto que vai desenvolver no cérebro do bebê os sons consonantais como /m/, /p/, entre outros. As vocalizações estão sendo compreendidas como um precursor essencial à fala e como um indicador básico do desenvolvimento cognitivo e socioemocional.
A transição entre vocalizar e balbuciar
Antes do bebê iniciar a verbalização existe um momento chamado de balbucio. O balbucio inicia por volta do 6 – 7 meses quando o bebê inicia de fato as interações sociais, sendo assim os sons que antes eram apenas respostas motoras “inconscientes” passam a ser respostas às manifestações vocais que o adulto dirige ao bebê. Começam a aparecer emissões de sílabas e duplicações silábicas tais como: /mama/ e /papa/, por volta de 8 a 9 meses e então a partir destas os pais percebem a possibilidade de construção de palavras passando assim a prestar atenção à que momento e para o que o bebê está a fazer tais emissões. Nesse instante começa a acontecer a construção das primeiras palavras que irão formar o léxico infantil.
Um bebê que está atento ao outro e as emissões que este outro produz, conscientemente passa a ampliar seu balbucio diferenciando suas emissões de modo a aumentar suas possibilidades comunicativas. As consoantes no balbucio significam que o bebê está praticando, moldando sons ao aprender a manobrar boca e língua, e escutando os resultados. Isso demonstra que eles estão conscientes dos movimentos que precisam fazer. O cérebro inicia então o planejamento motor da fala.
Um bebê que mesmo com a interação e estimulação dos pais não modifica seu balbucio, permanecendo na emissão apenas de vogais exprime atenção, pois a vocalização seguida de balbucio tem sido cada vez mais vista como precursor do desenvolvimento da comunicação verbal.
E a verbalização, o que é?
Seguindo então o que foi colocado acima, o próximo degrau do desenvolvimento é o aparecimento das verbalizações que devem acontecer por volta dos 12 meses. Verbalizar é de fato expressar-se. Normalmente associamos a fala, porém pode ser associado também à escrita. Nesse post vou me ater a fala. Verbalizar ou falar é quando o som (vocalização) é articulado na boca com a ação dos lábios, língua, dentes e céu da boca (palato) formando as palavras. As palavras surgem pela modulação que o bebê vai fazendo a partir das emissões do adulto que está em interação verbal com ele. A partir de então o bebê de fato começa a realizar tentativas cada vez mais frequentes de se comunicar verbalmente. Os sons que apareciam no balbucio e que não faziam parte da língua materna, tendem então a desaparecer, permanecendo somente os sons para os quais o bebê é estimulado.
Nessa etapa é possível perceber a maleabilidade do bebê em modelar-se a partir das emissões do adulto realizando cada vez mais aproximações corretas daquilo que ouve. A verbalização é uma ação consciente do bebê que necessita que o cérebro esteja apto para realizar a escolha dos fonemas necessários para a construção da palavra, o planejamento de como esses fonemas devem associar-se e a execução, ou seja, enviar para os articuladores o comando da ação a ser realizada.
De posse desses conceitos é possível que os pais tenham mais clareza para verificar em que etapa o seu bebê encontra-se e se ele está conseguindo ampliar seu repertório de sons conforme a hierarquia de desenvolvimento mencionada.
Caso você perceba que não há modificação na qualidade e precisão da emissão dos sons é importante procurar um fonoaudiólogo para uma avaliação e orientação.
Até o próximo post,
Fabiane Klann Baptistoti
Fonoaudióloga