Para iniciarmos a conversa sobre esse tema precisamos pensar no momento em que você alimenta seu filho como um relacionamento entre duas pessoas. Sabemos que um relacionamento envolve diversos aspectos, entre eles confiança no outro, respeito, atenção, comunicação efetiva, amor… Esses são os sentimentos que permeiam os momentos de alimentação do seu filho?
No ato de se relacionar, cada um tem o seu papel e a sua importância, e isso deve ser respeitado e cultivado para que se mantenha uma boa conexão entre as partes durante a alimentação. Quando vocês, pais, estão no controle de tudo, o relacionamento alimentar com seu filho pode se tornar algo bem difícil!
“Estar no controle de tudo” é assumir as responsabilidades que cabem a você e também as que cabem ao seu filho. Vocês, pais, são responsáveis por “o que e quando” oferecer os alimentos aos seus filhos, assim como pelo modo como essa oferta é realizada. Criar um ambiente agradável e propício para as refeições é a sua parte! Também é de grande responsabilidade sua o que você diz durante esses momentos de alimentação, as palavras que você utiliza, suas emoções, pensamentos e sentimentos. Lembre-se que todos esses fatores influenciam diretamente no padrão alimentar do seu filho. Se a criança apresenta dificuldades para se alimentar, o modo como você reage a isso reflete diretamente no comportamento dele, e o modo como você responde frente aos momentos de dificuldade podem ser modificados e melhorados pensando no desempenho alimentar como um todo, esse fator de mudança depende apenas de você! Decidir procurar auxílio de um profissional competente para ajudá-lo nesse processo pode ser um divisor de águas no desempenho alimentar futuro do seu filho, pense nisso!
Dito isso, qual a responsabilidade do seu filho nesse relacionamento? Seu filho é responsável pela quantidade de alimento que ele come! Bom, aqui entramos em um tópico que geralmente causa muita dúvida nos pais. É muito difícil, para a maioria dos pais, dar essa “autonomia” para as crianças, o controle da quantidade de alimento geralmente é o aspecto mais importante na visão dos pais, pois é assim que eles acreditam garantir “o crescimento e a sobrevivência” da criança. Porém, é exatamente com essa ansiedade que se cria em torno da quantidade que a criança ingere, que muitas vezes, comprometemos o relacionamento alimentar entre pais e filhos.
Vou citar alguns motivos pelos quais é importante respeitar a quantidade de alimento escolhida pela criança e evitar conflitos em relação a isso:
– A criança possui uma capacidade interna que determina a quantidade que ela necessita e que é possível ingerir;
– As crianças variam muito a quantidade de alimento que aceitam no dia a dia;
– Existem diversos fatores que influenciam no crescimento e desenvolvimento da criança, como aspectos genéticos, hereditários, metabólicos, sua saúde no geral e suas características e habilidades físicas, por isso não é somente a quantidade de alimento que importa;
– Crianças que intercalam as refeições com amamentação ou mamadeira tem seu apetite modificado;
– O tamanho do estômago da criança é muito menor se comparado com um adulto, de maneira geral podemos pensar no tamanho da mãozinha da criança fechada em punho, por isso, comparar as quantidades ingeridas ou tentar igualá-las ao de um adulto é injusto e pode causar pânico na criança.
Agora que já conversamos e conseguimos entender a importância de cada um assumir certas responsabilidades, pense como esses momentos acontecem na sua casa. Geralmente as crianças escolhem o local onde querem comer e como isso ocorre (sentada no sofá, assistindo desenho, etc) e os pais decidem a quantidade dos alimentos (muitas vezes insistindo quando a criança não quer mais aceitar), uma inversão de papéis que gera muita angústia.
É muito importante que se entenda o envolvimento de cada um no relacionamento alimentar e, principalmente, que eles sejam respeitados. Cultivar um bom relacionamento com seu filho nos momentos das refeições e transformá-los em momentos felizes em família irá modificar para melhor a rotina de todos, mas não se esqueça, a mudança vai depender de você dar o primeiro passo!
Até o próximo encontro!
Jéssica Batista
Fonoaudióloga