A Análise do comportamento Aplicada (ABA), é uma das abordagens dentro da Psicologia que possui validade e evidência científica, e utilizada como embasamento teórico para intervenção para as pessoas neurodivergentes. Buscar por terapias que são baseadas em evidências economizará um tempo muito importante de intervenção, já que muitas famílias desistem das terapias por não achar que está trazendo melhorias significativas ao desenvolvimento de seus filhos.
A Terapia ABA busca entender a relação do ambiente e do comportamento (o que ocorre antes e depois de uma resposta comportamental), e assim enriquecer o ambiente para o desenvolvimento de habilidades essenciais para a qualidade de vida da criança, ou diminuir comportamentos que podem causar prejuízos aos mesmos.
Uma das principais vias terapêuticas é buscar entender esta relação que o comportamento da criança tem com o meio e ensinar formas alternativas para que a mesma consiga ter as mesmas chances de comunicar o que está sentindo ou querendo.
É sempre bom lembrar que o fato da criança não desenvolver uma fala, não é sinônimo de que ela não se interessa pela relação social, já que muitos comportamentos que ela emite podem ter função comunicativa e busca de contato social. Mesmo que a criança possa apresentar um atraso no desenvolvimento da fala, é importante que ela tenha algum nível de comunicação, a fim de reduzir dificuldades futuras e diminuição de comportamentos que podem gerar prejuízos, que pode ser feito com o uso de Comunicação alternativa e/ou suplementar.
Outra questão que pode auxiliar na organização da criança autista é a previsibilidade. Para isso, recursos como rotina visual, avisos verbais, estabelecimento de tempo de limite com uso de timer ou relógio, podem prevenir situações de estresse. Geralmente a queixa dos cuidadores é de que a criança não entrega ou não aceita guardar os brinquedos, mas geralmente não é dada previsibilidade para momento, que por si só já é um momento desafiador.
Outro ponto que pode gerar estresse aos cuidadores e na criança autista é o engajamento em tarefas que são importantes para sua vida, como ir à escola, tomar banho, cortar cabelo, escovar os dentes, sentar para comer, entre outros. Como citado acima, a rigidez comportamental e interesses restritos, podem dificultar o ensino de novas habilidades. Para isso, é essencial usar de recursos que são do próprio interesse da criança, como brinquedos, vídeos, músicas, coisas de comer, entre outros. Por mais que alguns pais possuem medo de que as crianças possam ficar dependentes destes recursos, se feito um bom trabalho, a criança para além de conseguir tolerar e aprender novas habilidades, ela não sofrerá tanto neste processo, ajudando ela a gostar ou aceitar as novas rotinas a ponto que os recursos possam ser retirados de forma gradual.
Deu para perceber que o foco do trabalho em ABA é o manejo de forma prazerosa ou mais tranquila para a criança, o que quebra também outro tabu que é o ensino através de punição. Sempre ressaltamos em palestras o risco de punições como palmadas, servir de modelo comportamental para criança, aumentando as chances de ela aprender no futuro a bater para se comunicar e conseguir o que quer. Da mesma forma que ela pode ser estimulada em conseguir as coisas sempre que se comportar de forma desafiadora, ela também é capaz de aprender a se comunicar para conseguir as mesmas coisas.
O trabalho terapêutico exige paciência, pois se trata de um trabalho de médio e longo prazo. Na realidade exige que os cuidadores mudem sua percepção em relação aos cuidados convencionais, passando a encarar a educação e o cuidado de modo terapêutico, para depender menos do auxílio dos profissionais para o ensino de habilidades para a criança. Quanto maior o engajamento da família na terapia, melhor é o prognóstico.
Por isso, fuja de receitas prontas, dicas simplistas, como brinquedos para autistas, e de terapias ou dicas que não sejam feitas as devidas avaliações prévias e que não possuem validade científica, pois há risco de nos frustrarmos e talvez causar prejuízo à criança.
Por fim e não menos importante, para que a criança possa crescer de forma saudável e alegre, é essencial que haja um cuidado com a família. Apesar das mídias pintarem o autismo como algo bonito, azul, entre outros adjetivos, no dia-a-dia, o cansaço, esgotamento, fadiga, ansiedade e depressão podem se fazer presentes. Os cuidadores de pessoas autistas também merecem cuidado e atenção. Atitudes como realizar acompanhamento psicológico e terapia, para conseguirem manter a calma mediante crises e serem capazes de assimilar as orientações terapêuticas, contar com auxílio de sua rede de apoio como demais membros da família, comunidade, suporte em saúde, lazer e governamental, entre outras, é fundamental.
Toda criança é capaz de aprender, desde que o ensino seja feito com amor, paciência e empatia. E que nós possamos não desistir, mas sim mudarmos e sermos criativos em manejar o ensino e tentar entender as dificuldades das crianças.