Uma das frases que eu ouço com frequência, dentro do consultório, é: “Meu filho teve uma crise”. No mesmo momento, inevitavelmente, eu penso: Será que o que aconteceu foi mesmo uma crise ou um comportamento de birra por busca de atenção ou fuga de demanda?

A importância em saber a diferença entre ambos está no cuidado que devemos ter em manter o comportamento inadequado de uma criança por ter sido reforçado indevidamente e mais, de forma inconsciente.

O quê? Não entendi nada, Mauren! 

Calma, eu vou explicar! Vamos por partes!

Existe uma grande diferença entre crise e birra. Podem parecer semelhantes, mas são muito diferentes entre si. Saber a diferença entre uma birra e uma crise pode nos ajudar a fazer o manejo mais adequado em resposta a cada situação.

Para Aurélio, “birra” é ação ou tendência para permanecer e/ou continuar de maneira insistente num mesmo comportamento, opinião, ideia etc; teimosia. Ato ou consequência daquele que contraria alguém por capricho”. 

Birras geralmente aparecem quando uma criança tenta obter algo que deseja. Comportamentos como grito, choro alto e agressão são recorrentes e só cessam quando a criança consegue o que quer ou quando percebe que não irá conseguir o que quer mantendo o mesmo comportamento. Resumindo, a birra tem a pura função de busca de atenção. 

Já a crise, é definida pelo Google como um estado de súbito desequilíbrio ou desajuste nervoso, emocional. É uma eventual manifestação repentina de um sentimento, agradável ou desagradável, estado de incerteza, vacilação ou declínio, episódio desgastante, complicado; situação de tensão, disputa, conflito. 

Nas  crianças, geralmente são resultado de uma sobrecarga sensorial, ou seja, muitas informações a serem processadas pelo cérebro. Comportamentos de tapar os ouvidos, choro excessivo, são alguns dos observados, além de provocar reações no corpo como frequência cardíaca acelerada, pressão arterial aumentada e frequência respiratória acelerada. 

A diferença entre birras e crises está nas birras terem um propósito de busca de atenção e as crises serem o resultado de muitos estímulos sensoriais ou decorrente de processos cognitivos. A birra geralmente é direcionada a uma pessoa específica, já a crise, pode acontecer até mesmo quando a criança estiver sozinha. 

Durante uma crise, o ideal para acalmar a criança é afastá-la dos estímulos, levá-la para um local mais silencioso, transmitir segurança e conforto, o objetivo é silenciar as entradas sensoriais.

Perceberam a diferença?

Para finalizar,  voltaremos ao ponto do segundo parágrafo: a importância de diferenciar crise e birra 

Compreendendo melhor a diferença entre birra e crise, saberemos como proceder para que birras não se confundam a crises e não sejam reforçadas. 

Reforçadas?

Birra é um comportamento. Todo comportamento produz consequências e essas consequências determinam a probabilidade da ocorrência do comportamento em situações futuras. “Reforçar” é a consequência em resposta a um comportamento. 

Exemplo: No supermercado a criança chora, grita, se joga no chão, por causa de um chocolate que a mãe não quis comprar. Pela situação constrangedora que se iniciou com a birra, a mãe acaba cedendo e compra o chocolate (comportamento: birra – consequência: ganhar o chocolate). Isto é, a criança teve um comportamento inadequado e a mãe reforçou este comportamento lhe entregando o chocolate. O cérebro da criança em desenvolvimento “aprendeu” que os comportamentos de grito e choro intenso são atendidos pelo outro e adequados para conseguir ganhar as coisas que deseja. 

Por outro lado, em situações de crises, é importante ter um olhar diferenciado para que os comportamentos não sejam ignorados e/ou agravados pelas consequências de uma resposta comportamental.   

É muito importante identificar se o comportamento que a criança está apresentando é birra ou crise, para você saber como agir para ajudá-lo!

Se ainda tiver dúvida, escreva para nós!

Até breve,

Mauren Zenni Klein

Psicóloga

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