A aquisição da linguagem é fundamental no desenvolvimento infantil, pois ao se comunicar – por gestos e/ou sons – a criança passa a ter uma “voz”. De fato, o ser humano possui a necessidade de comunicar-se: informar o que sente, o que quer, relatar experiências, tomar decisões e formar vínculos.

Cada criança tem uma constituição genética e está inserida em um meio particular! Isso significa que adquirir a linguagem é um processo aprendido, e por isso, crianças que crescem em lares com falantes em português, aprendem português. Porém, também há fatores inatos, por isso toda criança em um lar aprende um idioma. Porém, algumas crianças apresentam atraso no desenvolvimento da linguagem, e as causas podem ser variadas.

Conforme os marcos do desenvolvimento da linguagem, existe um período de tempo estipulado para a criança desenvolver cada etapa dessa habilidade. Os principais marcos são:

1 ano: responde com gestos sociais como dar tchau e mandar beijo. Utiliza gestos indicativos, como por exemplo apontar e chamar. Atende pelo nome. Surgem as primeiras palavras.
1 ano e meio: possui repertório aproximado de 30 a 50 palavras. Compreende ordens simples como “vem cá” ou “não pode”. Comunica com intenção.
2 anos: esse marco conhecido como “explosão do vocabulário”! A criança fala cerca de 200 palavras e começa a formar frases. Responde perguntas e imita ações e palavras.

Portanto, se com dois anos a criança ainda não se comunica, provavelmente a causa não seja preguiça! Fatores intrínsecos, ou seja, uma predisposição genética e/ou um ambiente desfavorável com poucos estímulos podem causar atraso no desenvolvimento da linguagem. Alguns transtornos do neurodesenvolvimento possuem como sintoma esse atraso, como por exemplo o autismo. Além disso, um ambiente com poucos estímulos, ou pouca variedade desses estímulos podem afetar a fala. A linguagem se sustenta em uma estrutura geneticamente determinada e na contínua interação com o ambiente social.

Logo, questões como “cada criança tem seu tempo” ou “ele entende tudo, mas tem preguiça de falar” podem ser muito prejudiciais. Isso porque tais afirmações podem atrasar a família na busca por orientação e intervenção precoce. A intervenção precisa ser precoce pois a neuroplasticidade vai diminuindo com a maturação e especialização de áreas cerebrais, ou seja, existe um tempo para que a criança desenvolva cada habilidade de forma rápida e sólida, depois disso, janelas de aprendizado são perdidas e o processo se torna mais árduo.

Falar é um processo que requer uma série de preditores e de funções cerebrais como planejamento motor da linguagem, organização, acesso ao vocabulário, ritmo de fala, articulação, etc. A aquisição é contínua e ocorre de forma ordenada e sequencial, aos poucos a criança adquire competências fonológicas, semânticas, sintáticas e pragmáticas.

Saiba disso: criança não tem preguiça de falar, elas são exploradoras natas e estão retendo tudo o que ocorre em sua volta, se a fala ainda não surgiu na idade esperada isso pode ser um ser um alerta! Busque uma avaliação fonoaudiológica para compreender qual a melhor orientação, e se é necessário intervenção e/ou outros encaminhamentos profissionais. Lembre, cada caso é um caso!

Referências:
https://doi.org/10.1590/2317-1782/20162015075 – Desempenho linguístico de prematuros de 2 anos, considerando idade cronológica e idade corrigida
https://doi.org/10.1590/1982-0216/202022216219 – Validação de cartilha sobre marcos do desenvolvimento da linguagem na infância
https://doi.org/10.1590/S0102-44501999000300014 – Aquisição da linguagem: uma retrospectiva dos últimos trinta anos

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