Em nossa prática clínica como fonoaudiólogos, com frequência nos deparamos com crianças cujas dificuldades encontram-se na fala. Sendo a fala o fenômeno mais aparente do desenvolvimento comunicativo da criança, o ato motor que concretiza os nossos pensamentos, parece ser tão simples a produção da mesma, bem como “resolver” os problemas relacionados a ela. Porém falar não é tão fácil quanto parece.
O que é a fala?
A fala acontece através de um conjunto de órgãos chamados de fonoarticulatórios: lábios, língua, bochechas, dentes, etc. Todos eles são fundamentais e compõem um grande fenômeno físico, que integram a produção vocal e a articulação.
A voz em si ocorre com a movimentação das pregas vocais, na laringe. Mas tudo começa com a ideia do que precisamos dizer, que é encaminhada para uma área de planejamento motor. Esse comando é enviado pelo nosso cérebro para essa área, indicando que produção de fala e articulação devemos realizar.
A programação motora acontece no córtex cerebral e depende de circuitos neuronais que têm representação de cada som. Esse circuito inclui o córtex pré-frontal, que é responsável pelos movimentos orais e também responsável pelo movimento dos membros superiores e inferiores do nosso corpo, e o córtex parietal posterior.
Mas não paramos por aí, ainda precisamos do cerebelo que é quem dita sobre a intenção do movimento e a região cortical dorsolateral pré-frontal esquerda que desencadeia o desejo de se comunicar.
Até aqui é possível perceber o quanto inicialmente já dependemos do córtex como um órgão não somente desencadeador da fala como ato motor, mas também emocional, relacionando-se com as nossas intenções e necessidades.
“A produção de fala é muito mais do que um ato motor”
Muito longe de ser apenas um ato motor, a fala é o produto final de uma série de processos linguísticos e cognitivos, sincronizados, através da qual pensamentos e intenções são transformadas em movimentos sequenciais, que tornam junções de sons em palavras e junções de palavras em frases.
Que o desenvolvimento motor é fundamental para o desenvolvimento da fala, já ficou claro. Mas além de ter um sistema motor em plena conexão e funcionamento, existem outros fatores que influenciam no desenvolvimento da fala, como:
– Intenção de se comunicar e a motivação para desencadear a produção de fala;
– Seleção do conteúdo a ser dito, havendo a necessidade de ter vocabulário e conhecimento prévio sobre o tópico em questão para que isso seja possível;
– Integridade do sistema auditivo e de aspectos cognitivos, pois prejuízos nessas áreas podem interferir na capacidade de produção da criança;
– Parceiros de comunicação eficientes e fluentes, de uma mesma comunidade, que forneçam modelos adequados e frequentes sobre cada tipo de produção, apresentando e relacionando o que for necessário para o desenvolvimento da criança;
– E muito mais!
Como você pode observar a fala é extremamente complexa e se relaciona com muitos outros aspectos do desenvolvimento infantil. Deste modo, quando uma criança apresenta dificuldades na fala é importante que isso seja levado à sério e que se procure um fonoaudiólogo especializado para identificar quais são as causas e necessidades específicas da sua criança. Quanto mais precoce for a intervenção, melhores são os resultados na intervenção fonoaudiológica. Além disso, será menor a necessidade da criança desenvolver adaptações e compensações para que seja compreendida na sua rotina.
Até o próximo post,