As dificuldades alimentares são muito comuns na primeira infância. Elas atingem cerca de 30% das crianças com desenvolvimento típico e esse número aumenta muito quando falamos de crianças com algum atraso ou déficit no desenvolvimento, chegando a 80%. Levando em consideração a complexidade do ato de se alimentar esses números não surpreendem.

            A alimentação desempenha um papel fundamental e se  caracteriza como a terceira PRIORIDADE do nosso corpo, ficando atrás apenas da respiração e do controle cerebral! Para realizarmos o “simples” ato de mastigar acionamos 26 músculos de forma direta e contamos com a participação de seis pares de nervos cranianos, ou seja, o mecanismo não é nada simples!

            Falando em músculos, começamos aqui a nossa discussão sobre a relação íntima existente entre APRAXIA DE FALA e SELETIVIDADE ALIMENTAR: essa relação é vista com clareza na prática clínica, onde muitas famílias chegam com a queixa central de comunicação, porém quando questionadas, as famílias mencionam as dificuldades vivenciadas nos momentos das refeições! Os profissionais precisam questionar e definir junto com os familiares o quanto as questões alimentares estão sendo prejudiciais para o ambiente da casa e até mesmo para o convívio social.

            As estruturas envolvidas no processo de alimentação são as mesmas que utilizamos para produção da fala: Lábios, língua, bochechas, mandíbula. E por isso a dificuldade de controle e planejamento motor característica dos casos de Apraxia de fala resulta em alterações semelhantes no momento de captação do alimento, mastigação, força de ejeção para deglutição, entre outras coisas, que impactam diretamente na aceitação dos alimentos e no padrão alimentar da criança.

            Além disso, habilidades musculares importantes para a função de ambas as ações, fala e mastigação, geralmente apresentam-se alteradas em algum grau em pacientes com Apraxia de fala,  tais como a mobilidade (movimentação), o tônus (hipotonia ou hipertonia), a força e a sensibilidade.

Nesses casos a atuação fonoaudiológica é primordial para estimulação e melhoria tanto da FALA quanto da ALIMENTAÇÃO. É importante que o profissional tenha experiência e sabia trabalhar em equipe, pois as dificuldades geralmente se expandem além da competência fonoaudiológica, e nesse caso, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos e médicos devem trabalhar de maneira multiprofissional.

Para finalizar, devemos lembrar que o ato de se alimentar é composto por várias etapas complementares, mas a mais importante delas é a mastigação! A mastigação é aprendida ao longo do desenvolvimento da criança, e depende muito de questões neurológicas e neuromotoras, de estruturas orais com boa funcionalidade, estímulos contínuos e adequados, e também de EXEMPLO! Não abra mão de refeições em família e inclua isso como uma prioridade na sua rotina 😉

Espero ter contribuído com informações importantes sobre esse dois temas tão atuais e presentes na nossa rotina!

Um forte abraço, 

Jéssica Batista

Fonoaudióloga

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