Quando paro para escrever um texto sempre penso no que tenho explicado mais aos pais de crianças que estão em processo terapêutico por apresentar déficits no desenvolvimento da linguagem. E hoje não foi diferente. 

Pensei, pensei e me veio à cabeça que nesses últimos dias tenho explicado aos pais sobre a importância de desenvolver vocabulário nos seus filhos, então decidi que este seria o tema desse post.

Entende-se por vocabulário o arsenal de palavras que são familiares na língua materna de uma pessoa, que é desenvolvido ao longo dos anos, e que permite que tais palavras sejam uma ferramenta útil para a comunicação e aquisição de conhecimento acerca das experiências vivenciadas no dia a dia.

Componentes da interação

Para que uma criança desenvolva sua linguagem enquanto veículo de comunicação faz-se necessário alguns elementos estarem presentes:

1- existir intenção de se comunicar;

2- ter um parceiro de comunicação;

3- utilizar um meio de comunicação;

4- ter um conteúdo a ser partilhado.

Não basta uma criança querer interagir verbalmente com alguém, esse alguém estar disponível para a comunicação, ela saber falar ou escrever ou até mesmo comunicar-se por gesto e não ter conteúdo. Esse conteúdo é o vocabulário. Então vamos a ele.

Como desenvolver o vocabulário

Quando uma criança nasce ela encontra-se num novo ambiente cheio de estímulos visuais, auditivos, olfativos e táteis. As vivências que essa criança realiza com o meio em muitos momentos são experiências individuais, mas na maioria das vezes são experiências vividas inicialmente na díade adulto-criança, mais precisamente entre mãe-criança.

A mãe enquanto parceira privilegiada de interação com essa criança desde a mais tenra idade é que necessariamente deve apresentar o mundo para o bebê.

Apresentar o mundo é nomear, significar, chamar a atenção para algo, marcando o momento da interação como algo prazeroso.

As vocalizações que a criança realiza precisam ser significadas, ou seja, devem receber nome, forma, para que a criança possa criar uma imagem mental (figura) que  irá acessar toda vez que estiver exposta aquele estímulo verbal. A partir da criação das imagens mentais as palavras serão construídas.

Porém, não só as vocalizações devem ser significadas, mas também as experiências táteis, os cheiros, os eventos devem ser descritos, criando assim uma memória emocional para a criança. Essa memória emocional também se converterá em vocabulário.

O dia a dia é cheio de oportunidades de experienciação para a criança e para o adulto, sendo este o meio natural de desenvolver o vocabulário. Confira abaixo algumas dicas importantes para aproveitar a sua rotina e estimular o vocabulário das crianças.

Dicas para desenvolver o vocabulário do seu filho

1- Converse sobre os objetos que seu filho demonstra interesse, descreva a forma, a função, as cores. Demonstre interesse no objeto, assim ela irá prestar mais atenção. Quando seu filho apontar para algo, nomeie, faça sons, incentive-o a fazer as mesmas ações que você está fazendo com o objeto compartilhado. Ofereça tempo de interação de qualidade, afinal, quanto mais você estiver proporcionando experiências de diálogo com seu filho, maior a velocidade e a quantidade de palavras que ele aprenderá.

2- Leia livros e vá mais além, discuta sobre eles. Questione sobre o que acabou de contar, pergunte onde está determinado objeto ou personagem, por exemplo. Os livros são fontes inesgotáveis para aquisição de categorias (animais, meios de transporte, frutas, cores, partes do corpo, instrumentos musicais, figuras geométricas, etc). A leitura de livros também contribui para o desenvolvimento da criatividade e estreitamento de vínculos entre pais e filhos.

3- Brincadeiras de faz-de-conta além de criar o mundo imaginário onde tudo pode acontecer, faz com que palavras e estruturas novas de pensamento possam ser desenvolvidas. No mundo da fantasia tudo é possível. O amigo imaginário aparece possibilitando diferentes vivências.

4- Proporcione vivências ao ar livre, tais como passeios no parque, na praia, picnic. Essas vivências trazem muitas vezes elementos novos para a conversa com a criança. No parque nomeie os brinquedos, ensine verbalmente como brincar neles; na praia faça castelos de areia nomeando os instrumentos que levaram para fazer o castelo (balde, pá, rastelo, peneira); e se optar por um picnic que tal elaborar uma lista das comidas e bebidas que irão fazer parte desse gostoso momento?.

A partir do que conversamos é possível compreender que como pais não há como  não se responsabilizar pelo desenvolvimento inicial do vocabulário da criança. É no núcleo familiar que as primeiras interações acontecem e com ela as primeiras experiências da criança no meio.

Não perca essa maravilhosa chance de inserir seu filho no universo da linguagem dando a ele os elementos necessários para que possa dialogar com seus pares. 

Mas lembrem-se, voltando ao que coloquei inicialmente: não adianta ter parceiro, meio de comunicação e intenção se a criança não tiver o que falar. E ter o que falar é ter vocabulário!

Até o próximo post.

Fabiane  Klann Baptistoti

Fonoaudióloga

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