Você já reparou sobre como as crianças são exageradamente cobradas para que tenham um comportamento satisfatório? Muitas vezes recebo pais no meu consultório  que reclamam do mau comportamento do filho. Ao serem questionados sobre qual seria o comportamento ideal, muitas vezes eu ouço: – Que ele se comportasse melhor; – Que ele me compreendesse, – Que ele fosse bonzinho, colaborativo; – Que não fosse agressivo. Outras tantas vezes esses mesmos pais justificam a idade dos filhos como motivo para eles terem um comportamento “melhor”: – Mas ele já tem 5 anos, ele já entende!; – Nossa, mas ele vai fazer 7 anos, não é mais nenhuma criança pequena! ou mesmo: – Ele é muito infantil para a idade. 

Mas criança não é infantil?

As crianças são infantis sim, e tudo bem. Criança com comportamento de adulto é que é estranho. Quantas histórias vocês conhecem sobre adultos que não puderam aproveitar  a infância, pois tiveram que trabalhar, cuidar dos irmãos, ou coisas do tipo? Essa é uma fase que não tem retorno na vida. Por mais que seu filho viva 80, 90 ou mesmo 100 anos, só os primeiros terão sido como criança, por isso a importância de aproveitar essa fase e sim, ser infantil pelo tempo que for necessário. Uma criança infantil não pode ser usada como sinônimo de erro e sim algo comum e esperado.

As regressões

As crianças estão em desenvolvimento, essa é a fase que eles mais aprendem e constroem conhecimento acerca do mundo e deles mesmos. Mas o desenvolvimento nem sempre é linear. Por vezes uma criança que já aparentemente aprendeu a fazer algo, por exemplo, usar o banheiro, pode vir a fazer xixi na calça. A acomodação desse aprendizado, prevê, por vezes, alguns momentos de regressão. E isso, é extremamente comum e esperado. Na escada da evolução humana, as vezes dar um passo para trás significa pegar impulso para ir adiante.

Criança x Adulto

Vocês já notaram que por vezes as criança são cobradas a terem comportamentos que nem mesmo os adultos conseguem ter? Por exemplo, têm muitos pais que não querem que o filho seja raivoso ou bata num colega, mas que não conseguem controlar sua própria raiva com o filho, no trânsito ou mesmo no trabalho?  Ou mesmo, é dito para a criança que ela tem que ser boazinha e dividir seu brinquedo, mas você enquanto adulto, não empresta de jeito nenhum seus pertences?

Atenção papais

Cabe duas ressalvas: não estou falando aqui de não estimular as crianças em seu aprendizado e nem de permitir que elas façam tudo o que desejam. Mas sim, estou falando, de que, as vezes, brinquedos jogados na sala ou uma parede riscada, faz parte da etapa que elas estão vivendo, e denunciam que você tem uma criança em casa. Também estou falando que alguns comportamentos de regressão são comuns, porém, quando eles se tornarem contínuos e persistentes, pode ser patológico, e cabe um acompanhamento mais próximo, tanto de vocês quando de um especialista.

Cada etapa é importante

O mundo adulto tem muitas cobranças e a criança vai enfrentar tudo isso, quando crescer. Por isso deixe ela aproveitar essa fase da melhor maneira possível e não acelere essa etapa. Não encare seu filho como um mini adulto, e sim como a criança que ele é e precisa/merece ser. 

Isso terá reflexos muito positivos no desenvolvimento dele, e principalmente em sua saúde mental, afinal de contas, uma fase pulada na vida, é sinônimo de dificuldade. Caso esteja difícil exercitar isso por aí, fica aqui uma dica: quem sabe você não puxe pela lembrança a criança que você foi e ajude ela a empatizar com a criança que seu filho é hoje. Uma criança sempre entende a outra mais facilmente.

Até mais,

Tamara do Nascimento 

Psicóloga

CRP 12/14207

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