O dia 14 de maio foi instituído pela CASANA como um dia para se trabalhar a conscientização da comunidade e de profissionais sobre a Apraxia de Fala na Infância. Hoje, em 2020, ainda há muito trabalho a se fazer. 

Muitas pessoas ainda acreditam que alterações de fala como a Apraxia sejam um “jeito de falar” ou “preguiça”. Mas isso não é uma verdade. Por isso é muito importante que os profissionais que atuam com o desenvolvimento infantil tenham conhecimento sobre o que é a Apraxia de Fala na Infância e saibam para quem encaminhar. O fonoaudiólogo é o profissional habilitado para avaliar e tratar essa condição, mas infelizmente ainda há muitos profissionais que atuam de forma equivocada com essa população.

A Apraxia de Fala na Infância (AFI) é uma alteração no planejamento motor da fala que ocorre em decorrência de falhas no processamento cognitivo. Alguns estudos apontam que 1 a 2 pessoas a cada 1000 apresentem a AFI, mas este número pode ser maior.

Quando podemos desconfiar de Apraxia de Fala na Infância?

Crianças com AFI podem apresentar comportamentos muito semelhantes à outros quadros clínicos, podendo ser confundidas com crianças com outras alterações de linguagem ou até mesmo com crianças que se enquadram no Transtorno do Espectro Autista. Também é comum que crianças com AFI apresentem o quadro de Dispraxia (que já abordamos por aqui) e os profissionais não realizem conexão entre comportamentos motores amplos e a fala.

É um desafio, especialmente para o profissional fonoaudiólogo, avaliar essas crianças e realizar o diagnóstico diferencial, excluindo outras possibilidades ou mesmo apontar para mais de uma condição clínica acontecendo, em comorbidade.

A avaliação formal da AFI depende de certo nível de resposta verbal e de compreensão e, por isso, fechar o diagnóstico antes dos 2 anos de idade é difícil e pode ser imprudente. O fonoaudiólogo deve observar cuidadosamente todos os detalhes da comunicação e verificar se existem sinais de dificuldade no planejamento motor, tais como hesitações constantes ao falar, esforço ou dificuldade para produzir sons, baixa ou nenhuma emissão oral, entonação estranha ou monótona, alteração na emissão de vogais (exemplo: produzir a vogal E como aberta “É” em situação de vogal E fechada “Ê”), entre outros. 

O que observar na avaliação fonoaudiológica?

O fonoaudiólogo deve observar ainda como a criança realiza a produção de sons e movimentos orais, como estalar a língua, vibrar os lábios, inflar as bochechas, fazer o movimento de beijo. Muitas vezes aqui a criança já falha e manifesta claros sinais de instabilidade ao tentar realizar os movimentos.

Além disso, o profissional deve se manter atento aos atos motores amplos e perceber se a criança calcula bem aspectos como distância, peso e proximidade; se ela consegue realizar ações motoras próprias da sua faixa etária e sempre (muito importante!) questionar a família sobre as atividades de vida diária e interação social. Muitas vezes há relato de dificuldade para brincar em parques e participar de atividades sequenciais e coletivas

É claro que o desempenho de uma criança com AFI é diferente de uma criança que tenha a AFI como comorbidade com outra condição, como por exemplo a Síndrome de Down ou o Transtorno do Espectro Autista. A própria AFI varia em complexidade e gravidade dos sintomas e isso precisa ser considerado.

Quando você perceber estes sinais, desconfie de AFI e considere essa possibilidade com a família. Uma intervenção que imediatamente leve em consideração esses pontos apresentados terá muito mais efetividade, mesmo que o diagnóstico não se confirme posteriormente. Profissionais experientes em Apraxia de Fala na Infância indicam que a fonoterapia seja, inclusive, parte do processo de diagnóstico diferencial.

Até o próximo post!

Tatiane Moraes Garcez

Fonoaudióloga

CRFa 3R-10295

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