Os “Primeiros 1.000” dias são caracterizados pelo período que começa após a concepção do bebê até os dois anos de vida da criança. Este momento é uma janela de oportunidades que predizem a saúde do indivíduo na vida adulta.  O conceito dos primeiros mil dias de vida de uma criança surgiu depois que inúmeras evidências científicas embasaram  uma estratégia de saúde pública  sugerida para ser implantada em famílias de diversos países. 

Para que este período aconteça de forma eficaz diversos planos de intervenções e recomendações começaram a ser criados e, certamente, a alimentação se fez muito presente nestas estratégias. Os benefícios da alimentação adequada neste processo não se referem apenas a introdução alimentar do bebê, mas, são também são de extrema importância durante a gestação para o desenvolvimento fetal. A alimentação preconizada para este período se divide em três partes: dieta equilibrada da mãe na gravidez, o aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida e, na sequência, a amamentação acompanhada de todos os macros e micronutrientes, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Alimentação da gestante: 

A gestação é o período de maior demanda nutricional do ciclo de vida da mulher, uma vez que envolve rápida divisão celular e o desenvolvimento de novos tecidos e órgãos. Os complexos processos que ocorrem no organismo durante a gestação demandam uma oferta maior de energia, proteínas, vitaminas e minerais para e todo este conjunto irá contribuir para um saudável desenvolvimento fetal.

Você sabia que é fundamental consumir alimentos com todos os macro e micronutrientes? Isso quer dizer que nesse momento a alimentação deve ser rica em hortaliças, proteínas, gorduras saudáveis e bons carboidratos. As gestantes têm uma necessidade nutricional diferente de uma mulher adulta, por isso, é de suma importância o acompanhamento em todo o período gestacional para a adequação de todos os nutrientes e se necessário, uma suplementação individualizada. 

Além disso, é muito importante que a gestante não realize nenhuma dieta restritiva, nem mesmo se durante a gravidez ela estiver acima do peso ideal. 

Aleitamento materno exclusivo: 

Nunca é demais repetir que o leite materno é a melhor opção e o único alimento que deve ser ofertado para as crianças até o sexto mês de vida. A OMS fortemente recomenda o aleitamento materno exclusivo, pois ele reduz a morbimortalidade neonatal e infantil, assim como promove a saúde da criança e da nutriz. Além disto, o leite materno também pode reduzir o risco de doenças crônicas, como doenças autoimunes, diabetes mellitus, alergia alimentar, celíaca, entre outras. É importante ressaltar que não só o bebê, mas a mãe também tem vantagens, dentre elas a redução do risco de câncer de mama e de ovário, perda de peso e rápida recuperação pós parto. 

O aleitamento materno também favorece o desenvolvimento craniofacial e o ajuste muscular adequado ao longo do crescimento, que são fundamentais para o posterior desenvolvimento da fala. Leia mais aqui.

Amamentar é um ato natural e constitui a melhor forma de alimentar e proteger o bebê, sendo este um processo fisiológico, mas que precisa ser aprendido e muito bem orientado. Durante todo o processo a amamentação também é imprescindível  uma alimentação balanceada. Nesta etapa, tanto a mãe quanto o bebê, necessitam recomendações específicas e será este o momento que indiretamente iniciará a introdução de sabores diferentes para a criança, pois a alimentação da mãe interfere diretamente nas características do leite. Outro fator relevante durante o processo de amamentação é que o nutricionista poderá identificar se há possíveis alergias alimentares diante de sinais apresentados pela criança e caso seja confirmada a alergia alterações deverão ser recomendadas para a rotina alimentar da nutriz.

Na impossibilidade do aleitamento materno recomenda-se o uso de fórmulas infantis que possuam quantidades e qualidades de nutrientes baseadas na composição do leite materno maduro. Apesar de as fórmulas não serem iguais ao leite materno, cada vez mais as indústrias aplicam tecnologias  mais modernas para gerar respostas fisiológicas mais próximas possíveis às induzidas pelo leite materno.

Introdução alimentar da criança: 

A introdução alimentar no momento ideal é sinônimo de prevenção. O recomendado pela OMS é que este momento ocorra a partir do sexto mês de vida do bebê. A introdução dos alimentos complementares deve ser lenta e gradual, juntamente com o aleitamento materno, sem a necessidade de excluí-lo da rotina da mãe e da criança. Algumas crianças  se adaptam facilmente e aceitam muito bem novos alimentos. No entanto, algumas precisam de mais tempo, não devendo esse fato ser motivo de ansiedade e angústia para as mães. O importante é sempre oferecer uma alimentação diversificada, colorida e balanceada que deve ser estimulada desde cedo, uma vez que, os primeiros anos de vida são fundamentais para a formação dos hábitos alimentares que perpetuarão por toda a vida do indivíduo. 

A oferta de alimentos deve ocorrer a partir dos seis meses de vida do bebê e durante este processo deve-se ter uma boa orientação profissional e muita paciência. Todos os alimentos ofertados terão características sensoriais muito diferentes do leite, seja ele materno ou formulado. Diferentes tipos de manejos poderão ser introduzidos ao bebê, como por exemplo, alimentos levemente amassados ou pela famosa técnica do BLW (Baby-Led Weaning). O que precisa ficar claro é que a preferência dos manejos irá partir da vontade do bebê e não família, e isso também valerá para a o tamanho das porções. Falaremos sobre este assunto nos próximos posts! Não perca!

As recomendações essenciais são a de que a oferta de sal deve acontecer somente após um ano de idade; a oferta de açúcar somente após os dois anos; e uma atenção especial deve ser dispensada para a introdução de alimentos considerados muito alergênicos como o leite de vaca, o trigo, a soja, o amendoim, as castanhas, os crustáceos  e outras oleaginosas. Você também pode conferir mais sobre o tema de alergia alimentar aqui.

A avaliação do estado nutricional e da qualidade alimentar tem se tornado um aspecto cada vez mais importante em todos os ciclos da vida, onde com planejamento de ações de promoção à saúde se consiga a prevenção de diversas doenças e a garantia de uma vida mais saudável – em todos seus aspectos.

Até o próximo post,

Elisa de Espíndola

Nutricionista

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