Altas habilidades e superdotação são conceitos relacionados a indivíduos que apresentam um desempenho excepcional em algumas áreas específicas, sejam elas intelectuais, artísticas, acadêmicas ou esportivas. No entanto, é comum encontrar casos em que, ao mesmo tempo que se vê um alto desempenho em determinadas áreas, em outras, se destacam por ter um déficit muito grande, sendo mais comum nas relações interpessoai, que podem ser melhor explicadas por algum transtorno mental, especificamente, transtornos do neurodesenvolvimento como autismo e TDAH. Sendo assim, chamamos essa junção de modos de funcionamento de “dupla excepcionalidade”.

A identificação precoce e a avaliação adequada desses quadros são fundamentais para fornecer o suporte adequado e promover o desenvolvimento pleno desses indivíduos. Neste texto, discutiremos sobre altas habilidades e superdotação, a dupla excepcionalidade e como a avaliação neuropsicológica é essencial para um diagnóstico diferencial preciso.

Altas Habilidades e Superdotação

Altas habilidades e superdotação são conceitos que englobam indivíduos com talentos e habilidades excepcionais em uma ou mais áreas específicas. Essas pessoas se destacam em termos de criatividade, pensamento crítico, originalidade e habilidades de resolução de problemas. A definição desses conceitos pode variar em diferentes contextos e culturas, mas geralmente envolvem um desempenho notável que excede a média da população. Mas, como identificar?

Joseph Renzulli, um renomado pesquisador na área de superdotação e educação de talentos, propôs a Teoria dos Três Anéis (ou Modelo dos Três Anéis) para explicar a superdotação e a criatividade. De acordo com essa teoria, a superdotação é composta por três fatores principais:

Habilidade acima da média: O primeiro anel refere-se às habilidades e capacidades acima da média que um indivíduo possui em uma ou mais áreas específicas. Essas habilidades podem ser intelectuais, criativas, acadêmicas, artísticas, liderança, entre outras. A presença dessas habilidades é essencial para que o indivíduo se destaque em um determinado campo. Geralmente tais habilidades podem ser identificadas a partir de altos escores de QI em testes padronizados.

Criatividade: O segundo anel diz respeito à criatividade. A capacidade de pensar de forma original, gerar ideias inovadoras e solucionar problemas de maneiras únicas é fundamental para a expressão plena do potencial de um indivíduo superdotado.

Comprometimento e motivação: O terceiro anel envolve o comprometimento e a motivação do indivíduo em desenvolver suas habilidades e talentos excepcionais. A disposição para se dedicar a iniciar, sustentar de forma autodidata e finalizar a tarefa.

Altas habilidades é um transtorno mental? Não! Não é considerada um diagnóstico e sim um modo de funcionamento cerebral. Infelizmente, há um estereótipo social de que pessoas com altas habilidades são “gênios”, o que pode acarretar em níveis altos de autocobrança para quem possui esta habilidade e prejudica na qualidade da saúde mental. Por este motivo, quando a AH/SD for identificada, deve ser direcionada para melhor orientação terapêutica possível.

Já a dupla excepcionalidade, refere-se à coexistência de AH/SD com algum tipo de transtorno mental. Essas dificuldades podem incluir transtornos do espectro do autismo (TEA), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), Transtornos específicos de aprendizagem, depressão, ansiedade, entre outros.

A dupla excepcionalidade pode ser um desafio na identificação, pois as habilidades excepcionais podem mascarar as dificuldades, e as dificuldades podem esconder as habilidades. Isso muitas vezes leva a equívocos na avaliação e, consequentemente, a falta de apoio adequado para o indivíduo.

A avaliação neuropsicológica desempenha um papel crítico na identificação e no diagnóstico diferencial de AH/SD e dupla excepcionalidade. Esse tipo de avaliação busca entender o funcionamento cognitivo e emocional do indivíduo por meio de testes e observações clínicas. Através da avaliação neuropsicológica, é possível identificar padrões de funcionamento em diversas áreas, como memória, atenção, linguagem, habilidades visuais e motoras, além de aspectos emocionais. Com esse conhecimento, é mais fácil distinguir entre características próprias de altas habilidades e possíveis sinais de transtornos ou deficiências, permitindo um diagnóstico mais preciso.

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