As pessoas  a partir de uma certa idade passam a perceber que sua memória já não é mais a mesma, referindo que estão com “falta de memória”. 

Há algum tempo atrás a “falta de memória” era uma característica comum apenas entre os idosos, quando o processo de envelhecimento já estava adiantado.

Atualmente tenho presenciado que muitos pessoas cada vez mais jovens, vem fazendo essa constatação e ainda mais, fazem essa constatação com um sentimento de pesar.

Esse fato me levou a pensar sobre o que desejo conversar com vocês nesse post: por que a perda da memória causa sofrimento?

O que é a memória?

Memória é uma das funções mentais superiores (cognição) assim como a atenção, a criatividade, as funções executivas, a linguagem, a capacidade social e a capacidade visuo-espacial. 

A memória, podemos dizer, é a parte consciente do tempo vivido, que nos dá a noção de passado, presente e futuro. A memória nos auxilia a montar redes de informações que nos definem enquanto ser que vive tornando consciente toda nossa experiência e existência.Não sabemos ao certo onde fica a parte cerebral das nossas memórias, mas sabemos que há uma parte bastante robusta nos dois hemisférios cerebrais dedicadas a ela.

O que é ter uma boa memória?

Não é incomum ouvirmos de algumas pessoas: “Eu tenho uma ótima memória!”, mas o que é ter uma ótima memória? Certamente as pessoas diriam que ter uma ótima memória é lembrar de muitas coisas. Engano!

Ter uma memória eficiente é ter uma memória que direciona, que consegue separar informações relevantes de informações irrelevantes, e que consegue a partir daí organizar as informações de modo a serem acessíveis quando forem solicitadas pelo cérebro na situação vivida evocadas.

Entender o que é ter uma boa memória é compreender o conceito de gerenciamento de informação atrelado ao ritmo de vida, como por exemplo escolher as informações auditivas relevantes e conseguir separá-las adequadamente com tantas interferências, ou seja, o conceito de boa memória envolve muito mais questões qualitativas do que quantitativas.

O que a memória exige?

A memória exige que o indivíduo mantenha ativa a percepção aguçada, atenção direcionada, criatividade na elaboração de redes de informação associativas, organização e um meio de expressão eficiente.

O neurologista Leandro Teles (2016) coloca em seu livro Antes que Eu me Esqueça, que há três aspectos importantes que podem explicar essa quantidade de pessoas insatisfeitas com sua memória:

1- Grau elevado de cobrança: vivemos hoje numa sociedade altamente competitiva que não permite que erros e lapsos façam parte da vida das pessoas. Nunca fomos tão exigidos na nossa vida pessoal e profissional. Passamos a receber no nosso dia a dia mais críticas do que elogios, principalmente quando falhamos e mais ainda quando essa falha está diretamente relacionada ao resgate de informações. Não nos é mais permitido “ter branco” e levarmos esse fato na esportiva. As pessoas nos apontam como se estivéssemos sofrendo de algum mal súbito a ser pesquisado e pelo excesso de perfeccionismo  isso nos apavora e nos causa estresse.

2- Dinâmica da informação: vivemos numa era onde tudo é acessado muito rapidamente . As informações chegam a nós por vários canais diferentes, porém de modo superficial. Quantidade x qualidade parece ser a tônica da nova era: mais quantidade e menos qualidade. Todas as informações assim como as redes de acesso e relacionamentos são rasas, sem profundidade, sem análise. Tudo isso gera problemas para o real processo de memorização. Muita velocidade e pouco tempo para perceber e integrar as informações. Temos que resolver tudo muito rápido e não nos sobra tempo para fixar nada, ou seja, não formamos memórias duradouras.

3- Fatores individuais: não se pode deixar de falar das questões individuais. Que estamos vivendo uma vida conturbada e com excesso de cobrança, isso é um fato, mas há que se pensar na predisposição de cada indivíduo. Os seres humanos adoecem, seja por alguma alteração física e orgânica ou por hábitos inadequados. Alterações de sono, desatenção, multitarefas, oscilações hormonais e desequilíbrio emocional podem levar a lapsos de memória. Esses desequilíbrios necessitam ser tratados. E ainda há as doenças como as  demências Alzheimer, Parkinson, etc) que acometem normalmente o idoso.

E porque sofremos?

Os adultos jovens sofrem porque não é permitido a eles “errar”, “esquecer”. Estamos tão envolvidos com muitas tarefas e sempre dependentes do olhar do outro sobre nós e nosso fazer que um ato falho passa a ser motivo de desespero.

O idoso sofre porque percebe que uma parte de si já não existe mais. Suas lembranças se esvaziam assim como há o esquecimento de algumas tarefas diárias. 

Independente do quanto e como afeta a vida das pessoas, o fato é que ninguém gosta da sensação de estar “esquecendo”.

O que podemos fazer?

Há muitas maneiras de buscar minimizar os problemas de memória, entre eles atividades que envolvem habilidades cognitivas de modo geral são muito indicadas, pois tais atividades utilizam-se de exercícios que se inter-relacionam.

Independente da causa e da idade os estudos na neurociência mostram que todas as pessoas se beneficiam de atividades individuais ou em grupo para a estimulação da cognição e consequentemente da memória.

Se isso lhe interessou busque saber onde há profissionais que possam lhe oferecer tais atividades e participe intensamente das mesmas.

Pratique hoje, não deixe para amanhã!

Leia também sobre aplicativos de treinamento cognitivo aqui.

Até breve,
Fabiane Klann Baptistoti
Fonoaudióloga

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.